A fusão BPA/Millennium Angola, que criará o quinto maior banco angolano em activos, foi anunciada em Outubro como forma de assegurar condições de crescer em contexto adverso e responder às alterações da supervisão europeia, que veio penalizar os bancos portugueses expostos a Angola, um movimento que deverá ter sequência.

A Economist Intelligence Unit sublinha no seu mais recente relatório sobre Angola ter sido esta a primeira vez que dois bancos angolanos se fundem e recordou que o Banco Privado Atlântico tem estado a negociar uma operação semelhante com a filial do russo VTB. "Com a rentabilidade a recuar e outros desafios associados que os bancos angolanos enfrentam, é provável uma consolidação do sector através de fusões", afirma a EIU.

O relatório Banca em Análise 2015, publicado em Outubro pela consultora Deloitte, revelou um aumento dos activos dos bancos angolanos, mas uma descida dos lucros em 50%, penalizados pelo ambiente económico adverso que o País enfrenta desde que o preço do petróleo começou a diminuir. Apesar das adversidades na banca, que incluem um aumento do crédito malparado, os bancos angolanos continuaram a expandir-se interna e regionalmente, dois novos bancos iniciaram actividades no país e houve aumentos expressivos na utilização de pagamentos electrónicos e na emissão de cartões de débito e de crédito.

O banco BIC, controlado pela empresária angolana bilionária Isabel dos Santos, começou recentemente a operar na Namíbia e abriu também um escritório na África do Sul. Os analistas há muito têm vindo a alertar para a iminência de operações de consolidação na banca angolana, devendo a próxima deverá como protagonista o BFA, controlado pelo português BPI, em que Isabel dos Santos tem quase 20%.

Os planos iniciais da empresária, de acordo com o boletim Africa Monitor Intelligence, passavam por assumir o controlo do BFA, onde tem 49% desde final de 2008, e fundi-lo com o banco que actualmente já controla, o BIC, criando destacadamente o maior banco comercial de Angola e com dimensão regional.

A aplicação das regras europeias à exposição que tem no Banco de Fomento Angola levou o BPI a anunciar em Dezembro uma descida do seu rácio de capital, o que tem impacto em toda a sua actividade financeira. A penalização decorre da Comissão Europeia ter decidido excluir Angola da lista de países terceiros com regulamentação e supervisão equivalentes às da União Europeia. Um relatório recente da consultora Eaglestone apontava como "insustentável" a existência de 29 bancos a operar em Angola, prevendo "vários movimentos de consolidação a curto a médio prazo".

Os motores da consolidação, referia, serão actores estrangeiros, mas também a necessidade de alguns dos bancos ganharem dimensão, ou corresponderam aos novos e mais exigentes requisitos de capital bem como alterar a actual estrutura accionista dos bancos angolanos. Em bancos como o BIC, (Banco de Negócios Internacional), Comercial do Huambo e Valor, os gestores ainda são dos principais accionistas, havendo espaço para encontrar um parceiro internacional ou mesmo vender directamente uma participação.