Cada recluso custa, em média, 20 dólares por dia, em despesas de alimentação, saúde, ensino e formação profissional, segundo dados avançados pelo ministro do Interior. "É uma média que se tem mantido constante ao longo dos últimos anos. Contrariamente ao que muita gente especula por aí, os reclusos em Angola já há alguns anos que fazem três refeições por dia. Mesmo com a situação actual a nível do Ministério do Interior, consideramos prioridade o abastecimento logístico do sistema prisional. Os presos têm roupas, água, energia eléctrica e formação".

Contas feitas pelo Novo Jornal por mês e ano, o Estado angolano gasta mensalmente 13.800.000 dólares e anualmente 167.900.000 dólares. Existem a nível nacional 23 mil reclusos, sendo 12 mil condenados e 10 mil detidos. Ainda sobre o mesmo assunto, numa entrevista concedida pelo director nacional dos serviços prisionais, António Fortunato, em 2014 ao Jornal de Angola, o director afirmava que o Estado gastava 30 dólares já em 2015.

O ministro fala em 20 dólares o que indica que o valor também baixou, acompanhando a crise financeira que o país vive. Na mesma entrevista, António Fortunato dizia que apenas recebiam cerca de sete por cento desse valor. "Estudos feitos em tempos apontavam para 30 dólares. Hoje, está entre os 35 e 40 dólares vezes os mais de 22 mil reclusos existentes nas cadeias do país. Só recebemos cerca de sete por cento desse valor. Mas há investimentos em curso e a direcção do Ministério do Interior tem apoiado, porque queremos revitalizar a produção agro- -pecuária e industrial para melhorar essa quota".

"É necessário fiscalizar"

O ex-recluso Pedro Dias, que ficou preso na comarca central de Luanda por cinco anos, frisou que é necessário saber para onde é que vai o orçamento que o Estado dá ao Ministério do Interior para os reclusos. "É preciso alguém que fiscalize estes dirigentes, porque, fazendo uma conta rápida, é muito dinheiro que o governo gasta com os presos. É preciso saber se esses valores servem para comprar carros ou pintar os gabinetes destes senhores. As pessoas precisam de saber para onde é que vai, muitos presos só comem no dia em que os familiares trazem comida. Ficamos um ou dois dias sem comer. Fiquei admirado quando ouvi o ministro dizer que há muitos anos em Angola, os presos fazem três refeições ao dia. Acho que o ministro não estava a falar deste país. Foram cinco anos e só quem lá já esteve é que pode dizer como é que os presos vivem nas cadeias em Angola".

De acordo com a fonte, falta tudo na comarca central de Luanda. "Só não sei porque é que os presos ainda estão na aquela cadeia, porque é uma cadeia que não tem condições para um ser humano ficar. Desde 2012 que ouvi o ex-ministro do Interior Sebastião Martins, a dizer que todos os presos seriam transferidos para outras unidades prisionais. Até ao momento, os presos continuam no mesmo sítio e com as mesmas condições. Falta água, energia eléctrica e uniforme prisional".

O jovem de 32 anos, que saiu da cadeia em liberdade condicional por indulto presidencial, disse, por outro lado, que é só observar nos dias de visita como os portões de entrada ficam cheios de mulheres com sacos nas mãos para deixar comida para os seus familiares. "Digo-lhe, senhora jornalista, se estes valores que disse o ministro do Interior fossem mesmo para a alimentação dos presos muitos casos de rebelião não aconteciam. Muitos deles sucedem por causa de um prato de comida". Um preso da comarca de Viana, com quem o Novo Jornal falou por via telefónica, que não quis se identificar, afirmou que nos últimos tempos não tem faltado comida na cadeia e reclama apenas da forma como a comida tem sido feita.

"A comida é feita para os cães comerem. É uma comida que nós, os presos, sentimos que lavaram as mãos. É por isso que muitos presos preferem comer a comida que vem de casa, não há vontade por parte destes dirigentes de melhorar a situação carcerária". Acrescentando que, se um dia, o ministro do Interior, Ângelo Tavares, fizer uma visita surpresa à hora do almoço, verá a comida que os presos comem.

"Presos comem com as mãos"

De acordo ainda com a fonte, considerou as condições em que vivem como "totalmente sub-humanas. É triste o que passamos aqui. Somos obrigados a comer com as mãos e virados para a parede, porque não podemos olhar para os agentes prisionais. A hora da refeição é também de algum suplício, quando as marmitas são entregues, os presos têm de ficar voltados para a parede, de costas para os carcereiros. A comida servida tem muito sal. Todos os dias eles servem fungi de milho, arroz, uns grãos de feijão, frango e peixe que a maior parte das vezes não cozem".

Um outro ex-recluso que também falou para o NJ sob anonimato, disse que, na cadeia de Viana onde esteve por quatro anos, não tem muitas reclamações a fazer sobre a comida. Tínhamos sempre comida, o maior problema é a forma como a comida é feita. Muitas das vezes a comida era feita com manteiga e trazia muitos problemas de saúde a muitos reclusos como dores de barriga e diarreia. Questionado sobre o que comiam, o ex-preso respondeu que ao pequeno-almoço era leite com pão, ao almoço arroz e feijão, e ao jantar massa ou sopa.

"O problema é que essa comida que é dada não é suficiente. E aqueles presos que têm família que traz comida sempre namoraram com outros presos que não tem comida. Acrescentou ainda que o maior problema no bloco A em que se encontrava, era a falta de água potável, sendo, além disso, obrigados a comer com as mãos".