E a prática da política angolana é conhecida como estando muito vinculada a uma ideia de sucessão por via de critérios ainda não muito bem consolidados nesses 40 anos de País independente.
Um importante indicador para a compreensão desse fenómeno em Angola é hoje a representatividade dos deputados à Assembleia Nacional em função da sua média de idade que ronda os 50 anos, contra uma ausência gritante de jovens políticos, cujo valor percentual represente aquilo que as estatísticas apresentam como a realidade demográfica.
Daí levantar-se uma questão não menos importante: Os movimentos juvenis dos partidos políticos são ou não úteis para a afirmação de uma nova de geração de políticos? Partindo desse questionamento e olhando para aquilo que é a prática nos vários partidos políticos, facilmente se chega a uma conclusão: O País não tem produzido políticos jovens com presença nos órgãos de decisão.
No cômputo geral, são poucos os partidos em Angola que, ao longos dos 25 anos, tenham feito grandes inovações no que à geração de políticos diz respeito. O apego às lideranças e o exercício da política como um "posto de trabalho" são elementos de interpretação para a compreensão de um fenómeno que é sustentado pela ideia muitas vezes rebatida de que "os mais velhos, com a sua experiência e valência, são o garante de uma certa estabilidade política no País".
No entanto, há quem defenda que a nova geração de políticos que se encontra espalhada por todas as formações políticas é o garante da continuidade das respectivas agremiações. Corporizam o render da guarda em momentos de transição, um fenómeno natural na vida das organizações.
"Nós somos produto desse processo quando em 1974 integrámos a UNITA, ainda jovens. O que significa que os jovens de hoje são os líderes e dirigentes de amanhã", opinou Alcides Sakala, da UNITA.
De uma forma geral, esta nova geração possuiu uma visão diferente de convivência entre angolanos que desponta no contexto da globalização. Segundo alguns analistas, a nova geração de políticos terá mais facilidades, porque exercerá a sua acção numa sociedade mais aberta, mais plural e mais democrática.
Para Adriano Sampaio Mianjy, da JMPLA, "é de suma importância a participação dos jovens na vida política do seu país".
"Os jovens políticos têm responsabilidade sobre os rumos que o País vai tomar. Por vezes, pretende-se lançar nos ombros da juventude toda a responsabilidade pela mudança social. E há também uma crença de que, por se tratar de jovem, a acção política que dele vem será sempre boa", disse.
Na opinião de Januário Eduardo Sambo, da CASA-CE, "o papel da juventude na política actual é de extrema importância para o alcance da renovação da sociedade". "Converter o presente cenário político em referência ética, será possível através dos ideais renovadores dos jovens independentes e formadores de opinião", acrescentou.
Referiu que "é importante que os próprios jovens comecem, desde a escola, a interessar-se pela política actuando directamente, cobrando responsabilidades de governantes, propondo acções e participando de fóruns e audiências públicas".
"Sendo a juventude a maior faixa etária dos angolanos, faz-se necessária a sua presença em todos os segmentos sociais, criticando e apontando soluções", diz o jovem Agostinho Paulo, secretário para a informação do PRS no Kwanza-Norte. Continuou, referindo que a inserção da juventude na política "é de extrema importância para renovar quadros, trazer novas ideias e construir um novo caminho", acrescentou. Para Paulo Sambila, da JFNLA, "os jovens não podem ficar omissos, têm que acreditar na força como instrumento de transformação".
"O jovem, seja ele de direita ou de esquerda, independentemente da sua ideologia, do partido em que esteja, não pode ficar ausente das discussões que envolvem o nosso futuro", frisou.
Alexandra Simeão: "A inovação tem sido o maior constrangimento dos partidos"
Como olha para a nova geração de políticos angolanos?
Qual nova geração de políticos? Se a maioria dos políticos em Angola têm mais de 50 anos! Na Assembleia Nacional, 180 deputados têm idades compreendidas entre 49 e mais de 65 anos (82% do total de 220 Deputados), 40 deputados têm idades compreendidas entre 33 e 48 anos (18%), não há deputados com idades compreendidas entre os 18 e os 32 anos.
A deputada mais nova tem 33 anos e os primeiros lugares de todos os partidos são preenchidos por pessoas mais velhas. Isto demonstra que a juventude ainda não tem espaço. A pergunta é saber até que idade é que se é jovem, fora do exemplo soviético, em que o líder da juventude era um "jovem" com 59 anos?
Em 2017, quero acreditar que haverá um comportamento diferente de todos os partidos, por um Parlamento representativo da maioria da população que tem menos de 35 anos. Esperemos que até lá, os dados definitivos do Censo de 2014 estejam prontos, para as lideranças partidárias poderem avaliar quantos jovens tem este país. É que são os jovens que impulsionam todas as campanhas de todos os partidos, mas parece que só servem mesmo para empurrar a carroça.
Porque na distribuição dos louros, recebem apenas elogios. Não consigo identificar nenhuma nova geração de políticos que sejam militantes de partidos e que tenham sido inovadores, não obstante todos terem um órgão juvenil.
Há alguns casos de excepção em todos os partidos, mas são ínfimos, se calhar existem outros mas não têm visibilidade. Porque maioria visível é caixa de ressonância do seu partido, não acrescenta valor e não apresenta ideias próprias.
Porque em todos os partidos, as pessoas seguem apenas as orientações dos seus líderes, o que prova quão imatura é ainda a democracia partidária. Existem alguns cidadãos mais jovens que no exercício da sua cidadania "fazem política" através da análise de assuntos pertinentes, alguns dos quais relativos à sua área de estudo, que não falam em nome de nenhum partido e que muitas vezes contribuem com soluções de forma eficiente.
Mas são muito poucos e não são sequer considerados políticos, pois na maioria dos países os políticos são apenas os que estão vinculados a um partido, em órgãos de soberania ou na estrutura partidária. Mas deixo aqui a minha nota de pesar pela inutilidade de um grupo de "políticos" arrogantes e mal-educados da nova geração, que apenas vê no lucro da sua actuação o sentido da sua existência.
Esses não servem a democracia, infelizmente, pela capacidade com que deturpam e desvirtuam a realidade.
Qual o seu perfil/característica em relação à velha geração?
Temos excelentes pessoas em todos os partidos. Temos alguns bons políticos em todos os partidos. Mas temos poucos políticos que olhem para a política apenas pelo dever de servir. Infelizmente a apetência pelo poder, na maioria das vezes, permite que sejam atropelados valores que deviam ser inalienáveis à conduta de um político.
E não falo apenas de ausência de ética no que à corrupção diga respeito, ou à acomodação do seu estatuto. Falo também na falta de compromisso para com o Povo, para com a solução dos problemas reais e com a incapacidade para saírem, quando não concordam com o rumo do seu partido.
Eu respeito a maioria dos políticos da velha geração, pela antiguidade, mas olho para muitos com pena, pela perda de sentido da sua actuação diária. Acho que perderam os ideais. Cruzaram os braços. Tornaram-se espectadores.
Sobram também aqueles que ainda constituem uma reserva moral, muito poucos, porque muitos já partiram. Gostava que os políticos da velha geração de todos os partidos colocassem Angola à frente de todas as nossas di ferenças. E isto faria uma tremenda diferença. Outro desejo é que estes políticos fossem capazes de perdoar, não no exterior dos acordos, mas no interior dos seus corações.
Há demasiada raiva para se poder construir uma democracia saudável. Há demasiada desconfiança para se estender a mão como compatriotas e buscar soluções de consenso. Há demasiada intriga. Há demasiado orgulho injustificado, para achar que uns sabem tudo e os outros não sabem nada.
Os jovens apenas estão a ser capazes de identificar as coisas negativas. Porque aqueles que têm voz, que são respeitados, que podiam servir de exemplo, estão calados, em todos os partidos.
Que partidos é que mais têm investido na renovação dos seus actores políticos?
Todos dizem que sim, mas na realidade nenhum tem feito um trabalho sério neste sentido. E já aqui vimos a faixa etária dos deputados de todos os partidos. Onde está a renovação?
E renovação não pressupõe apenas mudar de pessoas, é preciso ser capaz de trazer ideias novas, eficazes, condizentes com a expectativa no tempo, capazes de materializarem soluções que resolvam problemas.
Depois há a deficiência ao nível da renovação das lideranças que é um péssimo exemplo. As pessoas transformam a liderança num emprego. O exercício do poder político na generalidade devia ter um prazo e isto faria toda a diferença. Não se pode ser deputado ou presidente de um partido durante 20 ou 30 anos.
Quando isto acontece, as pessoas acomodam-se. E há alguns casos em que a renovação é verdadeiramente cénica, são de facto actores. Muitas vezes a fidelidade ideológica coarta a criatividade dos mais jovens que temem ser mal interpretados e colocados na prateleira da desconfiança. Mas, felizmente, ainda temos gente fiel aos seus partidos, que é honesta na defesa dos interesses do povo. Espero que se mantenham, pois cada vez são mais raros.
O porquê do não surgimento de partidos conduzidos por jovens, por exemplo?
Porque para fazer um partido político sai muito caro e os únicos jovens ricos neste país não fazem partidos porque a maioria das vezes são filhos de políticos em exercício de funções. E os que sobram, estão vocacionados apenas para os negócios. Eu acho que foi importante criar uma maior exigência para a criação de um partido político.
O que aconteceu em 1992 devia ser considerado um "case study", com o nascimento de mais de 200 partidos. Mas, infelizmente, uma percentagem significativa da nossa população hoje não faz nada de borla. Mesmo os grandes partidos têm que pagar para conseguir audiência nas passeatas. Ora, a maioria das pessoas não assina uma ficha para a criação de um partido sem que se lhe dê dinheiro. A sua assinatura para a candidatura a eleições ou para a criação de um partido político passou a ter um valor pernicioso para a democracia. Muitos assinam em diversas listas, sempre a facturar.
Se contabilizamos o valor de 7.500 assinaturas (variando o preço se é no interior ou no litoral) com mais 7.500 atestados de residência (a 1000 kz cada um), fica fácil perceber que, aliando isto à obrigatoriedade de ter um escritório equipado (de valor mínimo equivalente a cerca de 5000 mil USD) e com contrato de arrendamento, onde normalmente é/ era exigido um ano de renda, mais o pagamento da deslocação, estadia e alimentação das pessoas que vão buscar as assinaturas, podemos estar a falar em ter que reunir o equivalente a cerca de 150 mil USD para criar um partido em Angola.
Ora são poucos os jovens que conseguem reunir esta quantia. O povo, se quiser ver nascer novos partidos políticos, tem que se comprometer em ajudar a criá-los sem ser um negócio. Caso contrário, receio que os novos partidos que surjam agora, ou sejam satélites ou terão que conquistar, verdadeiramente, muita gente que respeite as suas ideias e acredite, de facto, no projecto, para poderem garantir a sua criação sem tantos custos, olhando para o projecto como uma missão.
Mas também é imperativo observar que em parte nenhuma do mundo se faz política sem dinheiro. A política do século XXI é cara, exige profissionais nos mais diversos campos para sair do patamar da ineficiência.
O marketing de promoção de pessoas ou de ideias exige um pagamento que quão mais eficaz for, mais caro se torna. Um partido que se crie e queira apenas viver do financiamento prestado pelo OGE, não terá nunca pernas para andar. Tem que ter a contribuição dos seus apoiantes em todos os sentidos, e o partido, em vez de dar, tem é que ser apoiado para crescer.
Neste sentido, o movimento revolucionário pode ser já um indício disso, de jovens que pretendam intervir/ actuar politicamente?
Pois essa pergunta terá que fazer ao movimento revolucionário, como é óbvio. O que lhe posso dizer é que nenhuma sociedade neste mundo evolui se não tiver na forja jovens políticos empenhados e movidos pelo ideal da construção de uma sociedade mais justa, representativa e inovadora.
Todas as evoluções históricas vieram pela mão dos jovens, temos os exemplos dos anos 60, mas podemos recuar séculos e constataremos o mesmo empenho. Porque é na juventude que se é audaz, que se tem sonhos, que ainda não se está acomodado. É aqui que se partilham gestos de solidariedade, é aqui que as pessoas se sentem iguais e motivadas para qualquer desafio apenas pelo prazer de participar ou contribuir para uma causa comum.
Nos últimos 25 anos, qual o partido que mais renovou e que valores acrescentados estes jovens políticos deram ao país. A questão, como eu disse, não está apenas em renovar. Está, sobretudo, em inovar. E aqui a minha avaliação é negativa.
A inovação tem sido o maior constrangimento de todos os partidos. Mesmo no que diz respeito aos programas eleitorais. Que, ou pecam pela falta de capacidade de serem materializados na forma e no prazo como são propostos, ou são uma mesmice, pois não atendem às questões que podem trazer mudanças estruturantes.
O povo não conhece a opinião sobre assuntos-chave da maioria dos deputados. Por exemplo, todos os políticos de todos os partidos colocam a educação como prioridade, mas não apresentam nenhum modelo inovador, realista, sustentável, mas ao mesmo tempo eficaz para podermos fazer da Escola a Instituição Social mais importante do país.
Dizer que a educação é uma prioridade é um lugar-comum e fica bem em todas as fotografias. Mas provar como fazer isso de forma inovadora, que responda aos desafios da globalização e das exigências do século XXI, com um financiamento generoso e comprometido reflectido no OGE e tendo em conta a nossa realidade, não vi nenhum, até hoje. Esta falta de rigor pode ser aferida quando falam em diversificação da economia ou em investimento na agricultura, a título de exemplo.
Conseguiram o seu espaço
Eles conseguiram o seu espaço com a fundação da CASA-CE. Mas já pertenciam a outras formações políticas. Lindo Bernardo Tito (antigo deputado do PRS) e Manuel Fernandes (PALMA). Essa nova geração de políticos se destaca por méritos próprios.
E para se projectar hoje porque têm uma série de qualidades. Estes jovens políticos têm a capacidade de transformar as ideias debatidas em um produto e de pautar o debate, na medida em que ele apresenta uma formulação que vai ser discutida pelo plenário, disse o professor universitário Mateus Luimbi.
Segundo este docente, em todas as sessões do parlamento, estes dois deputados fazem sempre intervenções de fundo. Sérgio Luther Rescova é um político da nova geração. O 1º secretário nacional da JMPLA pode vir a ser uma mais-valia para o partido que sustenta o governo tendo em vista os futuros desafios. Intuitivo e de verbo fácil, Sérgio Luther Rescova foi eleito no VI Congresso da JMPLA, que decorreu de 16 a 17 de 2009.
Aos 29 anos de idade, Rescova foi eleito para um mandato de quatro anos. Aquando da eleição, Sérgio Luther Rescova era militante há 10 anos na província de Luanda. "Temos que fazer entender aos jovens e à comunidade que o modelo constitucional que o MPLA defende é o que garante maior estabilidade sócio-política, a preservação das principais conquistas do povo angolano, nomeadamente a Independência nacional, a paz e a reconciliação", sublinhou na altura.
FNLA sem renovação O partido fundado pelo malogrado Holden Roberto tem grandes dificuldades para injectar novo sangue na sua organização. "Ingerências externas têm vindo a dificultar o crescimento da FNLA", disse ao Novo Jornal, Almeida Quila, um militante da FNLA, reconhecendo que, "face à situação, muitos jovens não aceitam ingressarem nas fileiras deste partido".
"Somos um partido de velhos porque quando decidimos tornar- nos militantes, fazêmo-lo por convicção ideológica", frisou, salientando que a injecção de sangue novo nas estruturas do partido é urgente.
Recorda-se que, em 2004, um efémero acordo tentou em vão conciliar os irmãos desavindos, pelo que apenas o grupo de Ngola Kabangu foi admitido em 2008 para concorrer às eleições, conseguindo eleger três deputados.
Como que a compensar a sua falha por ter interditado o grupo de Lucas Ngonda de participar com identidade própria no citado sufrágio, o Tribunal Constitucional revalidou no ano passado o acordo de 2004, legitimando Ngonda a herdar a presidência deixada pela morte de Holden Roberto, em 2007.