"No início, o Homem dançou para celebrar ou para pedir as dádivas de poderosas e desconhecidas entidades, mas, com a estruturação das sociedades, a dança diversificou os seus propósitos e funções", introduz a CDCA, numa mensagem que revisita alguns marcos daquela que é a sua expressão artística.

Recuando aos primórdios da profissionalização da dança, a companhia assinala que "nos primeiros anos da Independência começou a ser desenhada em Angola uma estratégia para o desenvolvimento do ensino artístico, com a abertura das Escolas de Arte".

Apesar da boa iniciativa, a "Escola de Dança viu-se confrontada com contrariedades que a impediam de cumprir o seu objectivo essencial: formar profissionais dentro dos padrões de um saber especializado universal", lamenta a CDCA.

"A indiferença perante a importância deste ensino especializado e científico teve como consequência a actual situação de não termos uma classe de profissionais de dança em Angola", prossegue a análise, sublinhando que 25 anos depois da fundação, em 1991, a CDCA resiste a duras penas, sendo a única companhia profissional angolana.

O desinvestimento, evidenciado na inércia para desenvolver uma estratégia de educação artística massiva, "remeteu parte importante da sociedade angolana à ignorância sobre os contextos em que a dança se manifesta, nomeadamente a sua vertente artística e intelectual", lê-se na mensagem alusiva ao Dia Mundial da Dança.

Apelando à importância da aceitação da arte "como algo incómodo, inovador, frontal e transformador", a CDCA recorda que "há anos que a dança tem vindo a negociar propostas com outros campos disciplinares, transformando-se num vasto universo de experiências criativas", 'passada' que Angola continua a ser incapaz de acompanhar.

"Estamos cada vez mais afastados deste progresso artístico mundial, e cativos dos perigos de um insistente e falacioso discurso sobre identidades e pertenças, com o qual se vai distorcendo o verdadeiro sentido do que é a dança e do que ela representa nas distintas realidades culturais e sociais".

O resultado, constata a CDCA, é a exaltação do "culto da mediocridade, agravado pelo facto de, com um folclore inventado, continuarmos, em detrimento de nós mesmos, a alimentar a imagem redutora que o Ocidente construiu e continua a querer perpetuar, de uma África parada no tempo, primitiva e idílica".

Num esforço de recuperação do progresso perdido, a CDCA propõe um novo olhar. "É tempo de experimentarmos a sabedoria de assumir a dança, enquanto arte; há que olhar para a dança como património universal, sem nacionalidades e sem fronteiras; e é fundamental que se dê dignidade aos verdadeiros profissionais, cuja designação é uma exclusividade daqueles que dominam um saber especializado".

O movimento está lançado. Angola vai continuar de fora?