Encontramo-los um pouco por toda a capital: uns abandonados por risco de desabamento, outros por falta de verbas, e alguns deles sem proprietários conhecidos.

Numa ronda por alguns bairros da cidade, a reportagem do Novo Jornal deparou-se com um sem-número de prédios abandonados, muitas vezes transformados em focos de criminalidade.

Localizado no bairro Alvalade, na rua Emílio Mbidi, o vulgarmente chamado prédio Negro, inacabado há 25 anos, não esconde o seu estado, quer do lado de fora quer de dentro.

Isabel Mateus, de 60 anos, que mora próximo do imóvel, diz que o mesmo está abandonado desde 1991, e acrescenta que desconhece o seu proprietário.

"Este prédio está aqui há 25 anos, já procurámos saber junto da administração da Maianga quem é o dono, mas nem mesmo eles sabem. É um espaço que servia para se fazer uma escola ou até um centro comercial mas não se faz nada, e não sabemos porquê", disse.

A moradora lamenta que o prédio esteja à mercê de marginais. Recordou, por exemplo, o episódio de há alguns anos, sobre dois jovens que foram mortos pelos meliantes que faziam do espaço um esconderijo. "Um deles foi jogado de lá de cima e deixaram o corpo do outro rapaz no 1.º andar do prédio".

Depois desse crime, relata Isabel Mateus, a polícia fazia rondas e muitas vezes entrava no prédio, rotina entretanto abandonada. Por isso, nota a moradora, depois das 20h o medo impera. "Eu mesma já fui várias vezes assaltada".

Noutro ponto da cidade, mais concretamente no bairro do Palanca, outro prédio inacabado chama a atenção. Situado em frente à Universidade Católica, acumula lixo, tornou-se um depósito de andaimes montados, exibe paredes sem reboco, portas encobertas e, de acordo com moradores e vendedores da zona, este é um retrato que se arrasta há mais de cinco anos.

À falta de outra serventia, o local tem sido usado pelos vendedores ambulantes como refúgio para fugirem dos agentes da polícia e dos serviços de fiscalização do distrito.

"Quando chove, a água que vem do prédio inunda o nosso quintal de tal maneira que ninguém consegue sair de casa. Acredito que a causa do abandono esteja relacionada com a situação actual que o país enfrenta. Mas nós, os cidadãos, não podemos pagar por isso. Já foram violadas muitas mulheres aqui", reclama Francisco Sumbo, de 27 anos.

Torre do silêncio

Do Palanca para o distrito da Maianga, a nossa reportagem encaminha-se para aquele que talvez seja o mais emblemático prédio por finalizar em Luanda. De 15 andares, a torre está bem à frente da Cidade Alta, que dá início a uma das mais emblemáticas avenidas de Luanda, a Marien N"Gouabi, ainda hoje conhecida por muitos como António Barroso.

A situação não é diferente da que se verifica noutras artérias: encontra-se abandonado desde 1974.

Apesar de vedado com chapas para impedir a invasão de pessoas, nada parece travar o avanço dos marginais.

Segundo reportam os moradores, o lugar tornou-se um "verdadeiro quartel de bandidos", sem que se vislumbrem responsáveis.

Outro edifício que agora também que se encontra na lista dos prédios abandonados é o prédio n.º 5 do Kinaxixi, mais conhecido por prédio Miruí, nome de uma livraria que lá existiu há uns anos. Os moradores foram obrigados a deixar os apartamentos por risco de desabamento e aguardam uma resposta do tribunal.

Muitos outros edifícios também se encontram em estado de abandono, como é o caso dos prédios Treme-Treme e Kaladusa.

Francisco André, antigo morador do prédio "Miruí", é de opinião que o Estado deve criar mecanismos para que situações do género não aconteçam, porque nestes prédios abandonados "têm acontecido muitos crimes", acrescentando que "deve ser preocupação do Governo acabar com estes cenários tristes em que se encontram algumas zonas da cidade de Luanda".