Em entrevista ao site Económico, publicada hoje, Luís Mira Amaral aborda um dos dossiês que tem marcado a actualidade em Portugal: a repartição do domínio da banca por capitais espanhóis e angolanos.
Demarcando-se de leituras políticas alongadas sobre a decisão do Governo português de desblindar os estatutos dos bancos - por "óbvios conflitos de interesse", decorrentes do facto de Isabel dos Santos ser accionista da instituição que dirige -, o presidente do BIC nota, porém, que o diploma aprovado foi demasiado cirúrgico.
Apesar de salvaguardar que nunca concordou com a blindagem de estatutos. "Por isso, "a priori", estaria de acordo [com a desblindagem]", Mira Amaral considera que o decreto recentemente aprovado "é demasiado pontual", e "parece ter só como alvo Isabel dos Santos".
Ainda assim, o presidente não acredita que "haja qualquer espírito de provocação do Governo português".
Questionado sobre o impacto que a decisão lusa poderá ter na captação de novos investimentos angolanos, Mira Amaral defende que nesta fase a questão nem se coloca.
"Neste momento, Angola tem dificuldade em transferir divisas, porque tem falta delas. Por isso, acho que o problema nem se põe, porque eles, neste momento, nem têm capacidade de ter dólares ou euros para chegar aqui e comprar".
Para o líder do BIC Português, a actual crise económica angolana não deve contudo produzir um efeito de amnésia na sociedade portuguesa.
"É justo dizer o que os meus accionistas fizeram no BIC e o que a Sonangol fez no BCP. A Sonangol aguentou o BCP e, até agora, que eu saiba, perdeu muito dinheiro", destacou Mira Amaral, reforçando o apelo à memória colectiva.
"Não podemos esquecer o apoio que os angolanos deram, na fase em que o petróleo estava mais caro e a economia angolana estava mais próspera, de injecção de liquidez na economia portuguesa. Não sejamos ingratos", rematou.