Um relatório parcial da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil da OAB do Rio de Janeiro, apresentado ontem, concluiu que a escravatura e as violações de direitos humanos cometidas por mais de 300 anos contra africanos e descendentes tiveram três grandes responsáveis: os Estados brasileiro e português e a Igreja.

Para além dos dois Estados, "por motivos óbvios", a Igreja também foi apontada como culpada "por legitimar o processo escravocrata, ao negar humanidade aos africanos, ao dizer que os africanos eram coisas, inclusive ao arrancar o direito do nome africano", disse o presidente da comissão, Marcelo Dias, citado pela Agência Brasil.

Segundo o advogado, a próxima etapa é a procura da reparação aos que ainda sofrem as consequências do período, com direitos negados.

"O próximo passo é resgatar essa identidade africana e exigirmos da Igreja, do Estado brasileiro e do Estado português a reparação desse crime cometido durante 350 anos de escravidão e 127 anos de exclusão do negro em nosso país", disse.

A comissão foi criada em Março de 2015 e trabalhou durante oito meses no Estado do Rio de Janeiro, envolvendo visitas a terreiros e comunidades quilombolas (antigos escravos refugiados no mato), além de contactos com as universidades.

Entre as reivindicações da comissão está a criação de centros de referência da herança africana em algumas regiões do estado do Rio de Janeiro.

"O prédio, chamado Docas Dom Pedro II, na região portuária, foi construído no período da escravidão pelo engenheiro negro André Rebouças, que se recusou a usar mão-de-obra escrava e só utilizou trabalhadores livre. Queremos que esse prédio se torne um centro de referência", defendeu.

De acordo com o presidente da comissão, as reuniões e audiências públicas mobilizaram mais de mil pessoas, que ajudaram a reescrever a história.

"O relatório reconta a história do negro e da escravidão do ponto de vista daqueles que foram escravizados, que ficaram sem voz durante 350 anos de escravidão", referiu.

O relatório final deve ser concluído em Dezembro de 2018, sendo que, até lá, a comissão pretende visitar metade dos 92 municípios do Estado.