Televisão, rádio, imprensa, painéis publicitários ou internet, nada escapa à nova normativa sobre a publicidade produzida pela entidade reguladora queniana, o Kenya Film Classification Board (KFCB), responsável por definir os novos ajustes dos anúncios aos valores nacionais.

"Os anúncios não devem minar a importância da família como unidade básica da sociedade", sublinhou o director-geral do KFCB, Ezekiel Mutua, ao anunciar a nova e polémica regulação, que entrará em vigor em Julho próximo.

Com o objectivo de "promover os valores morais nacionais", as novas directivas determinam que os preservativos ou outros produtos anticoncepcionais - que não difundam uma "mensagem de saúde pública" -, as bebidas alcoólicas, os corpos semidespidos ou a linguagem sexual passam a ser vetados em todos os anúncios entre as 05:00 e as 22:00.

O Quénia iniciou já conversações com empresas internacionais como a Google ou a Netflix, a quem deu já a conhecer as novas regras, deixando claro que quem a incumprir será processado de acordo com a lei do país.

As reacções não se fizeram esperar. As redes sociais denunciaram a hipocrisia no país, onde a sexualidade continua a ser um tabu, mas é quase impossível encontrar em cartaz um filme que não tenha um alto conteúdo de violência.

São também habituais nos meios locais as secções em que especialistas falam sem grandes pruridos sobre sexo, infidelidades ou problemas do casal que abanam a estrutura da família, em cuja protecção tanto se empenha o KFCB.

Alguns ironizaram no Twitter, tentando adivinhar qual será a próxima surpresa do KFCB: "Proibir os filmes de terror porque os espectadores podem assustar-se?".

"Não estamos a limitar as liberdades constitucionais. Apenas queremos garantir os valores morais da publicidade", justificou Mutua numa reacção às críticas.

Esta não é a primeira vez que as autoridades intervêm nos meios de comunicação para censurar "cenas consideradas ofensivas", com o pretexto de proteger o público.

O beijo da marca de refrigerantes já foi eliminado. Pior sorte teve o vídeo de música "Same Love", no qual casais homossexuais pedem a igualdade contra a homofobia reinante no continente, o qual foi totalmente proibido.

"É tempo de novas leis, não de novas guerras (...) Compartilhamos a mesma dor e a mesma pele. Julguemos menos e amemos mais", dizia a canção, censurada pelo KFCB no Quénia e alvo de um pedido de não-divulgação ao Google para que a retire do Youtube, com o argumento de que atenta contra a legislação queniana.