O dirigente afirmou que as correntes de opinião estavam a ser motivo de enormes confusões no seio da instituição, o que levou a que os regulamentos do partido determinassem o seu termo.

"Acabámos com as correntes de opinião. Estava a haver muita confusão. As pessoas não entendiam bem o que era corrente de opinião. E isso nos nossos Estatutos já não existe", assegurou.

Dino Matross reagia à situação de alguns militantes que há muito deixaram de se rever na forma como o partido vem sendo dirigido, no caso particular de Marcolino Moco.

"Uma pessoa que nunca mais pagou quotas é militante do partido? Um militante do partido deve expor as suas ideias dentro do partido. Quando as apresenta no Facebook, temos que considerar esse elemento como alguém que quer destruir o partido. Não é no Club-K que se resolvem os problemas do partido", defendeu o secretário-geral do MPLA, num claro recado ao antigo primeiro-ministro angolano.

Questionado sobre se o MPLA está disposto a receber militantes como Marcolino Moco, Dino Matross contra-atacou questionando: "Quem expulsou Marcolino Moco do partido?".

"Há um tal de Mateus que fala sobre as tendências no partido, sempre que há congressos. Diz ser militante do partido, mas não é", afirmou, dirigindo-se a Silva Mateus, conhecido por ser o mentor da União das Tendências, referenciada como uma ala contestatária do MPLA.

Face à forma frontal como abordou o assunto, o secretário-geral do partido mais votado desde que há eleições democráticas em Angola prognosticou uma reacção das pessoas visadas nas suas declarações: "Sei que amanhã vão bombardear-me. Nem quero saber".

Dino Matross negou, por outro lado, existir qualquer represália contra aqueles que se mostrem críticos pela forma como o partido e o país têm sido governados.

"Há pessoas que dentro do partido expõem ideias contrárias, mas não sofrem as tais represálias. O que nós exigimos é que as pessoas exprimam as suas ideias dentro do partido, depois devem esperar pela sua aceitação ou não", informou.

Garantiu existir uma comissão no partido - de Auditoria e Disciplina - que ouve as preocupações dos militantes, bem como sugeriu aos membros da organização partidária a necessidade de conhecerem os princípios da instituição e a sua ideologia. Reforçou que o MPLA defende o socialismo democrático.

"O PR não nomeou Isabel dos Santos como filha, nomeou-a como angolana"

Questionado sobre a polémica nomeação de Isabel dos Santos para o cargo de Presidente do Conselho de Administração da petrolífera pública nacional Sonangol, Dino Matross refutou relacionar a nomeação da empresária pelo pai como nepotismo.

"Ao longo desses anos todos, passaram por lá [Sonangol] várias entidades que não tiveram qualquer ligação familiar ao Presidente e não se questionou. Agora, por ser a filha do Presidente está-se a questionar. Acho que não é assim. A Isabel dos Santos também tem os seus direitos enquanto angolana. Aliás, o PR não a nomeou como filha. Nomeou-a como angolana", defendeu.

Recordou que há um grupo de juristas - ligados à Associação Mãos Livres - que apresentou uma queixa judicial alegando irregularidades na nomeação e sugere que se aguarde pelo desfecho do processo.

Temos "vende-pátrias"

Ainda durante a "Grande Entrevista", Dino Matross mostrou-se agastado com políticos, particularmente da oposição, que expõem os problemas do país no estrangeiro.

"Temos "vende-pátrias", pessoas que expõem os problemas do país lá fora. Os outros também têm males nos seus países, mas não vêm cá informá-los", queixou-se.

Considerou a questão da tolerância política um problema sobretudo entre a UNITA e o povo. "A UNITA colocou muitos dos seus dirigentes a ocuparem cargos em zonas onde há pessoas que viram os seus parentes a serem mortos. O que se passa com a intolerância política não é com o MPLA. É com o povo", afirmou.

Quanto à corrupção, Dino Matross admitiu que é um mal que existe no país e que deve ser combatido por todos. Criticou as "acusações baratas" e reforçou que as instituições de direito têm estado a dar o devido tratamento ao fenómeno.

No final da entrevista que concedeu na segunda-feira à televisão pública, o veterano político garantiu que deixou de ler a imprensa privada: "Deixei de ler a imprensa privada. Apesar de sermos figuras públicas, também temos famílias, temos sensibilidades. Às vezes, está aí a nossa cara nos jornais e de conteúdo não têm nada".

Nascido a 30 de Dezembro de 1942, Julião Mateus Paulo, conhecido nas lides políticas por Dino Matross, pertenceu às fileiras da luta de libertação nacional em Angola. Licenciou-se em Direito pela Universidade Agostinho Neto em 1984, tornando-se um dos primeiros quadros angolanos formados no período pós-independência.