"Aquando da minha de posse, o camarada Presidente orientou-me para ouvi-los, de Cabinda a Cunene. Ele está muito preocupado com a situação dos artistas a nível nacional", introduziu a governante, que reuniu com os profissionais da Cultura na passada quinta-feira, 23, no Cine Atlântico.

Para além de músicos, actores, estilistas e artistas plásticos, o encontro de auscultação atraiu também bailarinos, artesãos e escritores, unidos no sentimento de insatisfação, transmitido a Carolina Cerqueira durante cerca de quatro horas.

Uma das vozes de descontentamento foi a de Baló Januário, músico versado no estilo semba, para quem "a música tradicional ficou relegada aos óbitos, porque o Ministério da Cultura deixou de prestar apoio".

Apesar da declarada falta de incentivos, Baló sublinha que os artistas continuaram a fazer o que lhes compete, divulgando e conservando a nossa cultura.

"Da mesma forma que preservamos a fauna e a flora das espécies em vias de extinção, também devemos preservar os estilos musicais que estão em risco de desaparecer, e que não são poucos", assinalou o cantor, acrescentando que dos 20 géneros musicais que existem no município da Quiçama só três são trabalhados, estando os outros 17 desaparecidos.

Para inverter esse quadro, o músico propôs à ministra a organização de actividades que promovam os ritmos tradicionais.

Já o bailarino José Francisco acusou os promotores de eventos de serem os causadores da fragilização da cultura nacional.

"Se um artista quiser actuar tem de ser amigo do fulano ou do sicrano", lamentou, acrescentando que é por isso que os agentes "escolhem sempre os mesmos músicos, grupos ou bailarinos".

Artesanato pede reconhecimento

No mesmo tom de insatisfação, Lando Jorge, que faz do artesanato a sua arte, declara-se um "enteado" do Ministério da Cultura, pelo facto de nem sequer existir uma iniciativa de premiação ligada à sua área.

"Já fiz pedidos ao ministério no sentido de ajudarem no transporte de material de Malanje para Luanda, e até hoje não dizem absolutamente nada," lamentou Lando, que desenvolve actividade no mercado de Cacuaco.

Quem também se manifestou indignada pela forma como tem sido conduzida a cultura nacional foi Marta Santos, membro da União dos Escritores Angolanos e guionista da Televisão Pública de Angola.

"Eu mando fazer o meu livro no exterior porque sei que é mais barato e dificilmente encontrarei erros ortográficos. Já aqui, como se não bastasse ser muito caro, encontram-se diversos erros ortográficos", criticou Marta, pedindo à Ministra que crie condições, "no sentido de fazermos crescer ainda mais a nossa cultura, sobretudo a literatura".

Atenta a cada uma das intervenções, a ministra prometeu trabalho, mas apelou à compreensão dos artistas, lembrando que o país vive uma situação financeira complicada, que poderá causar constrangimentos nos planos traçados.