Irradiando talento e agressividade empresarial por outras freguesias, Isabel dos Santos passou então a jogar b(r)ilhar com os diamantes, como quem joga matraquilhos. E, para se penitenciar das salmonelas do estrelar de ovos, Manuel Vicente, jorrou-lhe suculento amparo petrolífero na montagem de um soberbo império: as telecomunicações.

E, em jeito de agradecimento, passamos então a ficar "próximos, mais próximos" dos "irresistíveis" preços da sua jóia da coroa: a UNITEL...

Largos sorrisos celebram um casamento de ocasião, que permite à filha do Presidente, sob auspiciosos pingos petrolíferos, capinar e desbravar aqui outros terrenos ou, arregimentar ali robustas garantias bancárias.

Com alguns desses entretenimentos a representarem "peanuts", descobriu-se agora que, farta dos entulhos do "cimento e do lixo", o seu prato preferido, afinal, não são os ovos.

A sua atracção divina, afinal, também não são nem os diamantes nem as telecomunicações...

A sua sedução predilecta hoje é... o petróleo! A vocação, nascida e criada em Baku, mas fermentada aqui, está-lhe no sangue. Vem do pai, engenheiro por instantes e "arquitecto" especializado, por acaso, no mesmo ramo e na mesma cidade.

Por debaixo das suas ramas, Isabel dos Santos sempre soube que o aroma é de enxofre. Por cima, sabemos nós, tanto quanto ela, que o cheiro, também é de dinheiro.

A drenagem do dinheiro, feita por instrumentos anfíbios, é subterrânea.

Destapado às carradas, o dinheiro escorrega, em viagens transatlânticas, por misteriosos gasodutos.

Detentora de uma invejável fortuna, quem sabe da poda garante no entanto, que não é pelo dinheiro que a Sonangol foi à procura de Isabel dos Santos.

Tendo a filha do Presidente acumulado a riqueza que acumulou, pode-se acreditar que sim. Que há, aqui, motivos mais do que suficientes para enfiarmos a calculadora no saco.

Predestinada a salvar o barco da deriva, a própria, jurou à respeitável "Reuters" que também não foi a sedução política, que a entronizou na Sonangol.

Tomando como verídica esta alucinação, só resta, pois, acreditar que foi Isabel dos Santos quem, afinal, seduziu a política para si, nem esta imaginava...

Mas não se pode esquecer que a sedução aqui, é feita sob a batuta de uma espécie de um "saco azul" sem fundo à vista, que nos momentos mais difíceis do país se pôs ao serviço do Estado.

E, por tabela, também se pôs ao serviço dalguns afortunados, que nos conseguiram convencer que vivemos na "Flórida de África".

Ora, se vivemos nesse mundo cor-de-rosa, alguém pode ainda ter dúvidas sobre a natureza da contratação de ouro de Isabel dos Santos pela Sonangol? Nem eu, nem a própria, se calhar...

Pode até ter dito e disse, o que disse à "Reuters", mas logo a seguir desdisse e fez o contrário do que havia dito. Para começar, nada mau em política...

Basta analisar o alcance da apressada e inédita viagem, em voo rasante, que o Conselho de Administração da Sonangol, em bloco, fez na semana passada aos aposentos da bancada parlamentar do MPLA.

Sem as espontâneas manifestações de júbilo do costume, o nervosismo estava lá.

E logo facilmente se concluiu que, na calha daquela intempestiva peregrinação partidária, estava engatilhada uma óbvia encomenda: Medir a temperatura e requisitar apoio político para uma nomeação, no mínimo, controversa!

Não estando na Sonangol apenas para salvar a empresa, ver-se-á como se comportará quando for convidada por outras bancadas parlamentares...

A filha do Presidente, não tenhamos ilusões, está na Sonangol também por uma relevante questão política. Ponto final parágrafo! Só não vê quem não quer...

A Isabel dos Santos não pode, no entanto, deixar de ser reconhecido o mérito, subscrito por Galvão Branco, da "sua intuição associada a um discreto e proactivo posicionamento no mercado" e da sua capacidade de se rodear de "equipas profissionais competentes e de grande visão estratégica".

Mas ao subscrever esse mérito, não devemos pôr a nossa jactância a subestimar a existência de alguns alertas, feitos lá fora.

Sendo sempre saudáveis todas as mudanças conducentes ao saneamento da Sonangol, "a comprovada competência" da filha do Presidente como gestora, não deve, desde logo, ser confundida com a sua autoridade como proprietária.

Tomando como livre de rasuras, isento de falsificação de assinaturas ou da mania da perseguição, o último relatório do Banco de Portugal, que, por sua vez, se subordina às regras do Banco Central Europeu, ao ter arrasado Isabel dos Santos, por violação das suas obrigações estatutárias enquanto administradora não executiva do BIC-Europa, não pode ter deixado de acender a luz vermelha sobre o perfil de funções de quem assume a liderança de uma empresa com a dimensão da Sonangol...

Apesar disso, à parlamentar audiência com a bancada do MPLA, não faltaram algumas vénias. Poucas como recomenda o momento.

Em contrapartida, emergiram outros alertas resultantes do acesso a informação privilegiada que, a partir de agora, a filha do Presidente, dispõe na dupla condição de gestora pública e de accionista privada com negócios cruzados com a Sonangol...

Preocupação transversal a toda a bancada do MPLA, que será chamada a advogar a defesa da causa. Joaquim David, deputado e antigo director geral da Sonangol, recusou, nesse sentido, mergulhar num silêncio cúmplice.

E, na mesma linha, Irene Neto destapou, de forma serena, o véu de suspeição, que se advinha, à vista desarmada, em torno de inevitáveis conflitos de interesses...

Fascinada com a coroação, mas empalidecida com os reparos, Isabel dos Santos não deixou, no entanto, de ver na filha do primeiro Presidente de Angola a sua "homóloga" de estimação.

Provavelmente sem contar, acabou, porém, por esbarrar na pose de distância genética, que as separa.

Dispensando a equivalência do floreado, Irene Neto elegeu a veemência, mas não pôs de lado a solenidade, para rejeitar uma despropositada indumentária que, declaradamente, não cabe no seu guarda-roupa...

A engª Isabel dos Santos vai, deste modo, ter que esperar que a drª Irene Neto, venha a fazer parte de uma outra encarnação financeira.

E, na mesma fila de espera, ficarão também Nikolai Lukashenko, filho e putativo sucessor do déspota da Bielorrúsia, Alexander Lukhashenko; Teodorin Nguema, o delfim do ditador da Guiné Equatorial, Obiang Nguema; Denis Cristel N"guesso, o "principezinho" do Rei de Brazaville, Denis Sassou N"guesso; Valentina Guebuza, a herdeira mor do ex-Presidente de Moçambique, Armando Guebuza e outros tantos "homólogos"...