A terceira mulher, diga-se, que, tal como as primeiras duas, é uma loira escultural digna de figurar em qualquer capa de revista. A ex-modelo eslovena e esposa do multimilionário, que tem insultado sistematicamente as mulheres, mostrando um desprezo ou ódio pelo género feminino típico da misoginia, subiu à tribuna da convenção para proferir um discurso preparado com todo o rigor.

Assumindo o papel de estrela do primeiro dia da convenção, Melania Trump, apresentada pelo marido como a "futura primeira-dama" dos EUA, lá discursou. Lembrou a sua infância na antiga Jugoslávia; disse que os seus pais, desde muito jovem, lhe incutiram valores, nomeadamente que se deve trabalhar arduamente para atingir o que se quer na vida; afirmou que a palavra é sagrada e, por isso, deve-se cumprir o que se promete e sublinhou que se deve tratar as pessoas com respeito.

Muito bem, não fosse todo o discurso decalcado de um outro que, oito anos antes, Michelle Obama proferira na Convenção Democrata. O plágio depressa foi detectado e transformou-se num embaraço. Passado a pente fino, quase não há frase que escape. Todas as ideias foram ditas antes pela actual primeira-dama.

O director da campanha de Donald Trump, Paul Manafort, veio tentar minimizar o incidente, defendendo a integridade do discurso, apesar dos meios de comunicação social norte-americanos compararem excertos dos dois textos.

"Pelo menos um dos parágrafos do discurso de Melania Trump é uma cópia de Michelle Obama na Convenção Nacional Democrata de 2008. A comparação das transcrições mostra que o discurso de Trump segue, quase palavra por palavra, o da primeira-dama", evidenciou a CNN, que acusou Melania de plágio.

Antes de subir ao palco da Convenção, a esposa do multimilionário e candidato republicano afirmou, em declarações à rede de televisão NBC, que tinha escrito o discurso "com o mínimo de ajuda possível".

Descobertas as semelhanças, o director de campanha continuou a defender a autenticidade do texto, insistindo não acreditar que haja algo nesse discurso que não reflicta o que Melania pensa. "As palavras que usou eram pessoais para ela, dizemo-lo tranquilamente", declarou Manafort, numa conferência de imprensa, onde acusou a candidata democrata Hillary Clinton de "estar a tentar distorcer a mensagem" de Melania, chegando mesmo a dirigir-lhe uma acusação directa: "É outro exemplo de que quando Hillary está ameaçada por uma mulher, a primeira coisa que faz é tentar destruí-la". Paul Manafort precipitou-se.

Um dia depois, e perante a impossibilidade de continuar a desmentir o óbvio, lá veio um mea culpa da "família" republicana. Meredith McIver, a alegada autora do discurso de Melania, admitiu que foi ela quem escreveu o texto e que incluiu frases de Michelle Obama.

"Tabalhei com Melania no seu discurso, falámos de muitas pessoas que a inspiram. Uma pessoa de quem ela sempre gostou é Michelle Obama. Ao telefone, leu-me frases dela como exemplo", explicou a funcionária do partido, esclarecendo que anotou essas frases e depois incluiu algumas no rascunho que "acabou por ser o discurso definitivo". Isto porque, segundo Meredith, que apresentou o seu pedido de demissão - recusado por Trump - não verificou os discursos de Obama. "Esse foi o meu erro", concluiu, após lamentar o caos que criou.

No meio de tanta mentira, é difícil perceber onde está a verdade na campanha republicana. Toda ela é uma sucessão de equívocos e, apesar de o discurso plagiado parecer ser um episódio insignificante, é revelador do conteúdo da candidatura de Donald Trump.

Quem compara os dois discursos - o de Melania e o de Michelle - em registos audiovisuais percebe facilmente a sintonia, ou falta dela, entre as palavras e a sua substância, dada pela forma como são proferidas, o tom e a expressão corporal usada.

Em Michelle Obama tudo soa a real, sentido, vivido; em Melania, tudo parece oco, sem ressonância. Palavras atiradas ao ar... percebe-se agora porquê.

Para quem esteja atento, este foi o discurso mais significativo da campanha de Donald Trump. Mas não sei se os americanos vão dar conta.