Cresci na Zâmbia nos anos 70 e 80, durante a Guerra Fria. Quem liderava uma das duas potências de então, entre os Estados Unidos e a então União Soviética, era de muito interesse para nós. Escutávamos a rádio avidamente. Lembro-me das discussões entre os mais velhos sobre as consequências da eleição de Ronald Reagan em 1981. Antes, em 1979, havia debates acalorados entre os nossos sobre a ascensão ao poder da "Dama de Ferro" no Reino Unido a Margaret Thatcher.

Aprendi muito escutando os mais velhos que já tinham uma imensa experiência do mundo lá fora. Num dado momento da minha infância na Zâmbia, vivi em casa de um parente, um nacionalista que tinha estado na UPA e que tinha feito uma formação nos Estados Unidos. Durante os nossos jantares, trazia sempre a sua imensa experiência e saber na interpretação que fazia dos acontecimentos.

Na capital zambiana, Lusaka, havia duas bibliotecas - no Centro Cultural Americano e no British Council - cheias de jornais e revistas repletas de comentários sobre a actualidade de então. Foi Phil Graham, antigo dono do famoso jornal norte-americano "Washington Post" que disse que o jornalismo era o primeiro rascunho da história. As reportagens e comentários que lia naqueles jornais tinham uma qualidade inegável. Para mim, o jornalismo, reportagens e artigos de opinião eram um prefácio à Literatura - onde se poderia sondar os extremos da existência humana.

Nos anos 80, fui para a Europa, estudei Comunicação Social (com especialização em imprensa escrita) e trabalhei como repórter em várias partes do mundo. Há dezasseis anos que tenho o privilégio de enviar comentários a uma audiência do meu país natal, Angola, que eu tinha abandonado aos dez anos em 1976. Tive toda minha formação em Língua Inglesa.

Fui colunista no "Semanário Angolense" - uma aventura jornalística agradável que espero poder contar um dia. Lá, colaborei com figuras notáveis no jornalismo Angolano (Graça Campos, Silva Candembo, Severino Carlos, Salas Campos, Joaquim Alves, etc.) que me ajudaram bastante de várias formas, incluindo a superação das inevitáveis falhas que fui tendo na língua de Camões. Foi o Salas Neto que sugeriu o título da crónica à qual passei a ser associado.

Em 1979, com treze anos, escrevi um artigo, dactilografei-o e levei-o para o jornal "The Daily Mail" para ser publicado na secção dos jovens. Naquele fim-de-semana, o meu artigo foi publicado e assim começou a minha carreira de jornalista e de escritor.

Embora os mais velhos dissessem, que eu iria um dia ser Ministro dos Negócios Estrangeiros de Angola, para substituir o Paulo Jorge, as figuras que mais admirava estavam no mundo literário e jornalístico. Eu sempre procurava as suas opiniões.

Quando, em 1987 ingressei no curso de Comunicação Social na então Politécnica Central de Londres, os jornalistas tinham que saber estenografia e dactilografia. De repente apareceram os computadores e software que transformaram a produção dos jornais. Acompanhei várias transformações e ultimamente temos o fenómeno do facebook. Há os que foram profetizando o fim dos jornais e até dos livros em papel; segundo os mesmos, o futuro será puramente electrónico.

Interessante, porque é o mesmo foi dito sobre a rádio quando a televisão surgiu. Houve também quem sugerisse que o jornalista tornar-se-ia obsoleto. Há software que ajuda a escrever guiões para filmes ou intrigas para romances; ainda não há software que possa substituir a singularidade da existência humana. Os jornais podem ser electrónicos - mas haverá sempre a necessidade a necessidade do jornalista que traz a sua capacidade de discernimento. Nos Estados Unidos e Reino Unido, noto que depois de um acontecimento, há sempre um painel (composto por académicos ou jornalistas com longa experiência) para debater o verdadeiro significado do que aconteceu.

Cá no Ocidente, os políticos rodeiam-se de assessores de imprensa cuja função principal passa por interpretar tudo a favor dos seus chefes. Isto tem resultado em muitos sofismas e eventualmente algum cinismo por parte do público. Escrevo neste momento num local onde, ao fundo, a televisão está a fazer uma cobertura ao vivo da convenção do partido Republicano em Ohio. Logo depois de cada discurso, aparece um painel que inclui um velho colunista que analisa o que está a acontecer. Noto que o pessoal no local em que estou pára de conversar quando o velho colunista começa a falar.

É este o espírito que me anima ao começar a escrever neste espaço. Na Inglaterra, onde vivi por quase vinte anos, há uma tradição em que o convidado a um jantar tem que entreter os seus anfitriões: "singing for your dinner", ou "cantar para o seu jantar." Irei sempre, prezado leitor, sentir--me como um convidado para um grande jantar e prometo não só cantar mas informar e, se for possível, contar algumas anedotas.