Há décadas que se sabe que Mbanza Kongo tem condições para integrar a lista de Património da Humanidade da UNESCO. Há muito tempo que se sabe também que ter um local nesta lista, dá aos países um trunfo inigualável na captação de turismo internacional. Angola está, desde 2009, a preparar com afinco a candidatura da antiga capital do Reino do Kongo a essa exclusiva lista da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Começa a aparecer a luz ao fundo do túnel. A decisão deverá ser tomada em breve.

A UNESCO, na sua Convenção de 1972 para o Património Mundial, explica com clareza que estes sítios são locais de importância mundial inquestionável para a preservação da memória da Humanidade, cultural ou natural. Mbanza Kongo preenche esses requisitos? Já ninguém duvida que sim. Basta fazer uma incursão pela história simples do local, de fácil acesso na internet.

Mbanza Kongo tem cerca de 173 mil habitantes, foi a capital do antigo Reino do Congo, com origens no século XIII e designou-se, por via da presença portuguesa no país, São Salvador do Congo até à independência, em 1975. Fundada antes da chegada dos portugueses, lar da dinastia que governou o Reino do Kongo. Ali foi erguida a primeira Catedral católica, em 1549, pêlos portugueses, a primeira na África subsaariana. O Papa João Paulo II foi lá em 1992 por reconhecer a sua importância histórica na devoção cristã dos povos africanos.

Como todos os projectos de candidatura a Património Mundial, também este atravessou e atravessa dificuldades, especialmente na resposta aos exigentes requisitos da UNESCO para a atribuição do estatuto.

Em Paris, a pensar em Mbanza

Dar essas garantias foi o que a ministra da Cultura, Carolina Cerqueira foi fazer a Paris, França, na passada semana, como relatou a Angop, num encontro de trabalho sobre o projecto "Mbanza Congo, cidade a desenterrar", com membros do Comité Executivo da UNESCO para o Património Mundial.

O reforço das capacidades técnicas nacionais, a articulação de informações objectivas sobre a implementação das diversas fases, assim como a actuação da Comissão de Gestão criada foram questões abordadas, visto que constituem as linhas gerais a ter em conta.

Em abordagem estiveram ainda aspectos ligados ao valor de Mbanza Congo nos planos políticos, regional e económico, assim como o seu valor espiritual e de organização administrativa ancestral e cuja memória deve prevalecer nas gerações vindouras, como um contributo inestimável à História de África.

A realização de acções culturais e de iniciativas de cariz pedagógico a nível da região do antigo Reino do Congo foram igualmente analisadas, como forma de envolver as comunidades e sociedade civil do Congo Brazzaville, RDC, Gabão e Angola na mobilização para o sucesso do projecto.

A ministra manifestou o engajamento de Angola no cumprimento das responsabilidades assumidas e na consolidação do projecto tanto do ponto vista técnico como administrativo e institucional.

A governante deu, igualmente, a conhecer que estão a ser dados os passos necessários para a realização da Mesa Redonda Internacional, antes do fim do ano, que deve criar as bases gerais para a conclusão da primeira fase dos trabalhos.

A longa caminhada

Sabe-se da exigência dos critérios da UNESCO e, de acordo com as informações que o Ministério da Cultura foi libertando ao longo dos anos, Angola foi fazendo o trabalho de casa no que diz respeito aos levantamentos arqueológicos que provaram a existência de ruínas originárias dos séculos XV, organizando equipas nacionais e recorrendo ainda a estrangeiros, nomeadamente as universidades Agostinho Neto e de Coimbra (Portugal), bem como a pesquisa e consulta de documentação existente nos arquivos do Vaticano.

Nesta região de África, onde se insere Angola e os restantes países que constituíram, ao tempo, o Reino do Kongo, desde o Gabão aos dois Congos, não existe Património Mundial com base em estruturas edificadas, apenas natural. E em todo o continente, são escassos os locais com construções inseridas nesta lista, com excepções como a Ilha de Gorée do Senegal, graças às suas estruturas esclavagistas e religiosas e as Igrejas de rocha talhada Lalibela da Etiópia, foram escolhidas durante a elaboração da primeira lista, em 1978, o que renova o interesse por Mbanza Kongo.

A recuperação dos edifícios

Embora ainda não seja conhecida a origem, sabe-se que o Governo angolano convidou especialistas estrangeiros para ajudarem na recuperação e restauração dos edifícios históricos de Mbanza Congo.

A informação foi divulgada recentemente pelo Governador provincial do Zaire, José Joanes André, na tomada de posse dos membros do Comité de Gestão Participativa do Centro Histórico de Mbanza Kongo, criado por decreto presidencial.

Aprioridade vai para o restauro da primeira Sé Catedral católica (Kulumbimbi), de forma a parar a sua contínua degradação, respeitando o estilo arquitectónico original.

"É uma boa nova para nós, por isso, continuamos de mãos dadas com o Ministério da Cultura", disse o governador, ao mesmo tempo que se comprometeu com a limpeza em sítios e monumentos históricos da cidade.

Tudo, para, admitiu o governante, convencer os membros da UNESCO a votarem favoravelmente a candidatura angolana.

O que diz a Wikipedia

O chamado Reino do Congo ou Império do Congo foi uma região africana localizada no sudoeste da África no território que hoje corresponde ao noroeste de Angola incluindo de Cabinda, à República do Congo, à parte ocidental da República Democrática do Congo e à parte centro-sul do Gabão. Na sua máxima dimensão, estendia-se desde o oceano Atlântico, a oeste, até ao rio Cuango, a leste, e do Rio Ogooué, no atual Gabão, a norte, até ao rio Kwanza, a sul. O reino do Congo foi fundado por Ntinu Wene no século XIII.[3]

A região era governada por um líder, ou Soba, chamado Rei pelos Europeus, o manicongo, consistia de nove províncias e três regiões (Ngoyo, Kakongo e Loango), mas a sua área de influência estendia-se também aos estados limítrofes, tais como Ndongo, Matamba, Kassanje e Kissama. A capital era M'Banza Kongo (literalmente, cidade do Kongo).

Quando os portugueses aí chegaram, ela já era uma grande cidade, a maior da África sub-equatorial. Durante o reinado de Afonso I, edificações de pedra foram criadas, incluindo o palácio e muitas igrejas. Em 1630 foram relatados cerca de 4000 a 5000 baptismos na cidade com uma população de 100.000 pessoas.

A cidade foi saqueada várias vezes durante as guerras civis do século XVII, principalmente na batalha de Mbwila e foi abandonada no ano de 1678, sendo reocupada em 1705 por seguidores de Dona Beatriz Kimpa Vita, a partir desta época a cidade não foi mais abandonada.