JoãoA história volta a colocar, 15 anos depois, lado a lado duas figuras do MPLA: José Eduardo dos Santos e João Lourenço, numa espécie de "remake" político que mantém os dois protagonistas em circunstâncias mais menos parecidas com as que se viviam em 2001, quando, após 22 anos de poder, José Eduardo dos Santos, manifestou o desejo de abandonar a política activa, num ambiente de conflito civil quase residual no país.

"Quer [as eleições] se realizem em 2002 quer em 2003, teremos um ano e meio ou dois anos e meio para que o partido possa preparar o seu candidato para a batalha eleitoral, e é claro que esse candidato desta vez não se chamará José Eduardo dos Santos", manifestou o líder do MPLA em 2001, numa reunião do Comité Central, depois que o fez junto do Bureau Político. Entre as declarações de José Eduardo dos Santos, o fim do conflito armado, a realização de eleições legislativas, a aprovação da Constituição de 2010 e as eleições gerais de 2012, há um episódio memorável na história do partido do governo que muitos consideram ter representado para o agora eleito vice-presidente do MPLA, João Lourenço, a sua "travessia desértica".

Em causa estaria uma pretensa manifestação atribuída ao agora vice do MPLA em substituir no cargo o ainda líder do partido que, dando o dito por não dito na altura, acabou por continuar incólume no cargo e aos 22 anos de poder então completados, em 2001, somaram-se mais 15 anos em que o chefe de Estado já vai apresentando pouca frescura física e, uma vez mais, faz jus ao desejo de daqui a pouco menos de dois anos quase abandonar a vida política activa.

«Déjà vu»

O facto em si afigura-se como uma espécie de "déjà vu" para o ministro da Defesa, João Lourenço, que ao ser eleito com mais de 90% dos votos dos membros do Comité Central coloca-se em situação de maior conforto para eventualmente substituir o líder do partido, muito embora alguns analistas entendam que a questão não é tão linear assim como se pensa, e o exemplo mais clarividente foi a indicação de Manuel Vicente para o cargo de Vice-Presidente da República em detrimento de Roberto de Almeida, por exemplo.

A ser verdade que estamos em presença de novas suspeitas de um "remake" ou então de um "déjà vu", João Lourenço parece estar melhor avisado e os primeiros sinais deste posicionamento notou-se--lhe esta semana quando, em declarações à imprensa, o dirigente do MPLA escusou-se a comentar sobre a possível sucessão de José Eduardo dos Santos à frente do partido, caso este cumpra a promessa de se retirar em 2018.

Estratégia ou prudência?

Prudente e assertivo na resposta, João Lourenço preferiu jogar com as cartas que tem em mãos, e que deve tê-las como lição de vida dado o passado recente, e guardar para amanhã aquilo que, eventualmente, teria para dizer hoje, como aconteceu há 15 anos. O vice-presidente do MPLA considera "ser muito cedo para falar sobre o assunto", embora tenha assegurado à imprensa que o seu partido está em constantes mudanças.

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