A OPEP decidiu que em 2017 a produção de petróleo que controla vai diminuir dos actuais 33,2 milhões de barris por dia (bpd) para cerca de 32,5, uma decisão histórica que "queima" à volta de 750 mil bpd em comparação com a média do ano corrente, fazendo o preço nos mercados internacionais subir mais de cinco por cento.

Os analistas foram unanimes em considerar a decisão histórica, não poupando nos adjectivos para a mensurar, desde "excepcional" a "inesperada", sendo estes relativos exageros suportados por um cenário que, em tudo, conduzia a uma decisão diferente, desde a entrada do Irão na liça dos maiores produtores mundiais, procurando recuperar os níveis de produção pré-sanções, às questões na Nigéria, cujas guerrilhas no Delta do Níger, mantiveram durante muitos anos a produção do gigante africano em níveis anémicos.

Mas, depois de contas feitas, e com as horas passadas a permitir um olhar com menos "octanas", este acordo tem alguns vencedores e, entre estes, o "major" Arábia Saudita, que, sem mexer na sua excepcional e barata produção, junta, para já cinco por cento ao barril, e Angola, porque este disparar do preço é uma preciosa ajuda para as contas da Sonangol.

E, como se sabe, a petrolífera nacional está a atravessar claras e pesadas dificuldades na sua contabilidade, como alguns exemplos recentes o demonstram, sendo o mais destacado a questão com a indústria sul-coreana a tremer devido ao não pagamento de uma encomenda de mil milhões de USD em plataforma de extracção.

Mas há ainda outro dado não menos relevante. Como a consultora Wood Mackenzie avançou em relatório de há três semanas, e que depois a Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Isabel dos Santos, retomou em Itália, este acordo deverá acelerar as expectativas de crescimento dos preços fundeadas na convicção de que os baixos valores dos últimos anos geraram menos procura por reservas, por não se justificar grandes investimentos, criando condições para que a procura supere a oferta num prazo de três a quatro anos.

Em contas simples, pode-se dizer que uma subida sem contrapartidas imediatas de mais de cinco por cento por barril, nos cerca de 1, 75 milhões bpd produzidos em Angola, até ao início de 2017, ano em que também o país deverá ser chamado a contribuir para alimentar a descida na produção, perfaz uma soma considerável e é uma folga extra para as contas da Sonangol e para o provimento de receitas para o Estado.

A surpresa criada pela velha OPEP

Desde 2008 que a OPEP não conseguia excitar os mercados, mesmo quando, no início deste ano, o barril bateu perigosamente na casa dos 20 dólares, até ontem...

"A OPEP tomou uma decisão excepcional hoje... Após dois anos e meio, a OPEP alcançou consenso para gerir o mercado", disse o ministro do Petróleo iraniano Bijan Zanganeh, citado pela Reuters.

Tudo, porque a Arábia Saudita e o Irão chegaram à conclusão que era mais lucrativo aliarem-se neste particular do que alimentar uma conflitualidade, com origem, na religião, com o perene conflito entre sunitas (Riade) e Xiitas (Teerão), embora as dificuldades financeiras de ambos tenham começado a fazer mossa, levando inclusive a Arábia Saudita a cortar salários a ministros e funcionários públicos.

Mas, como sempre, a bela vem com o senão... a indústria do "fracking" norte-americana - que retira petróleo e gás do xisto a grande profundidas, através da fragmentação da rocha com injecção de água a grande pressão, mas que, devido aos elevados custos de produção e perante a baixa dos preços, entrou numa espiral de sucessivas falências, fazendo sair do mercado muito milhões de bpd - pode voltar ao mercado e pressionar de novo os preços para baixo.

Para já, os especialistas, ainda meio atarantados, vão falando assim, como este, citado pela Reuters. "O mercado não parece estar posicionado para isso. Os fundamentos dos EUA já estão mais apertados do que nós esperávamos, e deve ficar mais apertado", disse Scott Shelton, corretor do sector de energia e especialista em commodities da ICAP em Durham, na Carolina do Norte.

Agora, provavelmente passando o fim-de-semana, o mundo ficará a saber se o crescimento dos preços do barril é para manter ou se se tratou de um fenómeno que os mercados conhecem como o "efeito de anúncio" e, como já aconteceu outras vezes, tudo volta ao normal, com destaque para os mais aflitos, que são, como é o caso de Angola, os países com grande dependência da produção petrolífera.

E é bom não esquecer que o corte de pouco mais de 700 mil bpd anunciados pelo cartel para 2017 representa "apenas" metade do excesso de produção actual...

Mas, nesta equação sensível, há que lembrar os prognósticos da consultora Wood Mackenzie, quando lembra que em breve a procura superará a oferta porque as multinacionais não mantiveram o investimento na busca de novas reservas, sendo o número de novos blocos descobertos apenas comparável aos anos de 1940...

Seja como for, para já, regista-se a surpresa proporcionada pela velha OPEP, que apanhou até alguns dos seus membros desprevenidos, como foi o caso do ministro angolano dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos, um dos homens que mais corredores tem feito nestas reuniões, porque, momentos antes deta histórica decisão, afirmava à Bloomberg que se calhar diminuir ou congelar os preços poderia não ser a melhor solução.

Naturalmente que o ministro angolano procurava apenas controlar expectativas. Mas deve ser um dos mais felizes com a falha de análise...