Não obstante a crise que faz com que muitos de nós não consigamos divisas, a não ser no paralelo, parece que a nossa Bernice Burgos regressará para os Estados Unidos bem cheia de dólares.

Entendo perfeitamente a lógica empresarial por trás da presença desta celebridade: a demanda pelo seu mataco de silicone resultou em Angola numa imensa procura. Nas redes sociais, há várias fotos de angolanas com nádegas naturais tão grandes como a da Bernice Burgos; há uma senhora de Malanje que, como alguém sugeriu, ostenta uma bunda que deveria ser declarada património nacional.

Porém, a nossa compatriota não tem uma máquina publicitária como a Bernice Burgos. Ela não passa a vida a fotografar o seu corpo para o resto do mundo.

Sou um filho autêntico da Diáspora Africana aqui no Ocidente e acredito profundamente no diálogo entre as culturas. A música de um Fela Rasome Kuti é uma mistura de ritmos nigerianos e estilos urbanos de comunidades afro-americanas. O grande trompetista sul-africano, Hugh Masekela, bebeu muito dos grandes artistas de jazz afro-americanos. A falecida poetisa Maya Angelou influenciou profundamente muitos jovens escritores da África anglófona.

Há, porém, aspectos da cultura popular afro-americana que me inquietam; deveríamos ver o seu impacto na nossa juventude angolana com alguma ansiedade. Nunca tinha ouvido falar da Bernice Burgos; depois de ter feito alguma pesquisa, concluí que ela pertence a um grupo de entidades que são famosas só por serem famosas. A Bernice Burgos passa a vida a fotografar o seu corpo, que sofreu várias intervenções cirúrgicas, e a publicar as fotos que são seguidas de aplausos e até comentários afirmando que ela é a mulher mais linda à face da terra...

(Pode ler a versão integral deste texto de opinião na edição n.º451 do Novo Jornal, nas bancas e também disponível por assinatura digital, que pode pagar em kwanzas)