Recep Erdogan organiza na Turquia um autogolpe para cimentar o seu autoritarismo, detém dezenas de milhares de jornalistas, juízes, professores, funcionários públicos, ordena ataques contra refugiados e, com o apoio da OTAN, ataca territórios a norte da Síria, chacinando os curdos.

A chanceler alemã, que deu algum alento à sua condição de democrata-cristã, perdendo votos para a extrema-direita do seu país, ao defender a manutenção de apoio aos refugiados, inventou à última da hora uma figura pouco "Kristalina" para tentar impedir António Guterres de chegar a secretário-geral das Nações Unidas.

E começa agora a aparecer o desenho das trafulhices combinadas entre o Banco Central Europeu e as autoridades alemãs para manter a fachada do Deutsch Bank até onde fosse possível, afirmando que o gigante banco alemão teria passado em testes de stress, o que era, na altura, absolutamente falso. O prémio Nobel da Economia de 2001, Joseph Stiglitz, afirma publicamente que "a Alemanha mantém a sua supremacia em detrimento de todos os outros países e que é essa a fonte do problema" da União Europeia, chamando-a de "país profundamente egoísta".

Por aqui pela nossa casa grande, Robert Mugabe vai perorando para ninguém ouvir, não nos sendo possível descortinar onde começa a comédia e termina a tragédia de um homem que há anos perdeu o norte (o seu próprio e o do país que conduziu a um estado de pobreza e miséria extremas), com uma cadeira de rodas já preparada para, segundo a família, governar até aos 100 anos.

Joseph Kabila, desconhecendo a realidade histórica próxima de si que justifica condições excepcionais de manutenção no poder, ganhou-lhe o gosto e quer eternizar-se na República Democrática do Congo, como o inimigo visceral de seu pai, o sargento Mobutu de triste e vergonhosa memória.

O Gabão vai demonstrando a queda que o nosso continente vai tendo por regimes republicanos assentes em princípios monárquicos e ameaça eternizar-se com Ali Bongo a seguir o caminho de seu pai, Omar, que por lá ficou 42 anos... O ANC de Jacob Zuma, uma sombra cada vez mais estranha e desaustinada do grande movimento e partido de Nelson Mandela, de Oliver Tambo e de Walter Sisulu, caminha indolente e aparentemente indiferente, de derrota em derrota até uma eventual derrota final.

Até na República irmã de Moçambique, depois de estadistas com princípios e de valores morais, como Samora Machel e Joaquim Chissano, Filipe Nyuzi não sabe o que fazer com a pesada herança de Armando Guebuza e companhia (i)limitada.

Noutras paragens o retrato não é melhor. O partido republicano norte-americano, através de alguns dos seus senadores mais influentes, pede que Donald Trump desista da corrida presidencial marcada para Novembro. Os boletins de voto já estão impressos e a votação antecipada já teve início... O furacão Matthew voltou a pôr no mapa o Haiti, país que só é lembrado de cada vez que há furacões ou quaisquer outras desgraças. Só Cuba reagiu na prática, enviando como já é habitual equipas de socorro e apoio às entidades governamentais haitianas.

A Organização das Nações Unidas prepara-se para discutir, no próximo mês de Dezembro, se autoriza o início da utilização de sistemas de armas autónomas, uma nova e grande aposta dos industriais de guerra. Armas autónomas que seleccionam os seus alvos e disparam sem intervenção humana.

Ainda assim, apesar deste rol de desgraças, há alguns contrapontos. O exemplo de Cuba. O Chefe de Estado namibiano, Hage Geingob, vai dando um exemplo de seriedade e de responsabilidade. O prémio Nobel da Literatura é entregue a um músico norte-americano neto de imigrantes russos, que há décadas encanta o mundo com as suas baladas e que, muitas vezes contraditório nos vários caminhos da sua vida como somos todos, continua a deixar um legado gigante a toda a humanidade: Bob Dylan. As mulheres polacas que, nas ruas, venceram a luta contra uma iniciativa misógina que pretendia a proibição total do aborto em quaisquer circunstâncias. Na Islândia, ao contrário de grande parte do Continente Europeu em que os banqueiros tomaram conta da política, os responsáveis que levaram ao colapso financeiro do seu país já foram condenados. Ainda há razões para ter alguma esperança.