É claro que aplaudo a Eng.ª Isabel dos Santos quando decide pôr fim a vícios crónicos, que faziam da Sonangol um Estado dentro doutro Estado, hoje em estado de "metastização"...

Aplaudo-a também ao propor-se a estancar o brilho de um raiozinho de loucura, que, na posse dalguns "príncipes" do antigo edifício do Pólo Norte, fizeram da Sonangol uma autêntica "candy shop"!

Não deixo ainda de aplaudir por estar a concentrar a actividade da nossa petrolífera exclusivamente no seu "core business": pesquisa, produção e distribuição de combustível. Desse ponto de vista, estou inteiramente ao lado da Eng.ª Isabel dos Santos.

Os seus dois últimos antecessores, primeiro o Eng.º Manuel Vicente e depois o Dr. Francisco Lemos, tiveram os seus momentos de bonança. E logo a seguir também os seus momentos de desgraça.

O último, centralizador, acabou por embrulhar a Sonangol numa trapalhada burocrática incompatível com a dinâmica da indústria petrolífera. É verdade que começou a estancar o derrame, mas quase que acabou por asfixiar os sobreviventes e a própria companhia. Não deveria ter ido por aí...

À liderança do Eng.º Manuel Vicente deve-se sem dúvida, por outro lado, o mérito de, à pala da alta do preço do barril do petróleo, numa década, ter proporcionado a gigantesca expansão e internacionalização da Sonangol.

Mas o engenheiro electrotécnico que veio da antiga Sonefe não cometeu erros? Sem dúvida que sim! Resvalou em derrapagens e, ao ter sido demasiado expansionista, esse expansionismo pessoal expôs a sua imagem a uma fragilidade verdadeiramente confrangedora, tornando-o hoje politicamente vulnerável.

Foi demasiado ingénuo e essa ingenuidade, expressa na cega e ilimitada confiança depositada nalguns dos seus "homens de caserna", redundou na perda de controlo do gigantismo da Sonangol, tornando-o hoje eticamente indefensável. Em ambos os casos, não deveria ter ido por aí...

Mas é providencial não esquecermos que algumas das grandes decisões de alto risco por si assumidas, e que no passado mereceram o elogio dos que hoje o criticam e o tratam como um "leproso incurável", tiveram sempre o "agreement" do poder político.

(Pode ler este artigo na íntegra na edição n.º 454 do Novo Jornal, nas bancas e também disponível em versão digital, que pode pagar via multicaixa)