Quando se fala de petróleo e das suas oscilações, há uma voz que convém consultar para averiguar se o que se ouve ou lê, tem correspondência com a realidade: a da Arábia Saudita. E é o seu ministro da Energia, Khaled al-Faleh que vem agora dar alguma consolidação às crescentes expectativas de uma subida pronunciada do barril.

Isto, porque, al-Faleh acaba de juntar ao peso de Riade na definição da evolução dos preços, o de Moscovo, metendo dois gigantes no mesmo saco daqueles que procuram fazer esta matéria prima largar em definitivo o preço do barril abaixo dos 50 dólares.

Khaled al-Faleh defendeu ontem que o ciclo dos preços baixos chegou ao fim, com o seu homólogo russo, Alexander Novak, ao seu lado, juntando a esta ideia, outra: a de que "os fundamentos do mercado em termos de oferta e procura estão a melhorar".

A Arábia Saudita, com cerca de 9, 6 milhões de barris por dia (bdp), é o maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), da qual faz parte Angola, sendo o cartel responsável por cerca de 40 por cento do crude produzido diariamente no mundo, e a Rússia, que não integra a OPEP, é o maior produtor mundial, com os seus cerca de 11 milhões de bpd.

Juntando a estes dois gigantes do petróleo a possibilidade já assumida pelo Irão, o 4º maior produtor do mundo, com mais de quatro milhões de bpd, de congelar a sua produção, estão, segundo alguns especialistas, reunidas as condições para o exercício de algum poder de controlo sobre os preços.

Mas este não é o único factor a empurrar para cima o preço do petróleo. Recentemente, na sua reunião em Argel, a OPEP prometeu diminuir, já em 2017, a sua produção em mais de 700 mil bpd, um sinal forte dado ao mercado das suas intenções, mesmo que esta quantidade de bpd seja menos de 50 por cento dos barris produzidos em excesso perante a actual procura da matéria prima.

A isto junta-se a informação veiculada pela consultora Mackenzie, retomada pouco depois pela presidente do Conselho de Administração da petrolífera angolana, Sonangol, de que desde os anos de 1940 que não eram descobertas tão poucas novas reservas no mundo inteiro.

Isto, porque, devido à baixa procura dos últimos anos, o preço do barril desceu a níveis que não sustentam os investimentos necessários para a pesquisa de novas reservas e estas deixaram de ser pesquisadas pelas multinacionais.

A essa realidade juntam-se outras não menos importantes: os preços baixos levaram ao colapso de muitas empresas que, nos EUA, extraiam petróleo de xisto, recorrendo a uma técnica cara e altamente poluente, o "fracking", que recorre à injecção de água a grande profundidade e altas pressões, para destruir as rochas de xisto que contêm petróleo e gás natural.

Ou a questão da instabilidade em algumas regiões do globo, seja no Médio Oriente, com as sucessivas guerras no Iraque e na Síria, seja no Delta do Níger, onde as guerrilhas desestabilizam o grande centro produtor da Nigéria, fazendo a sua produção baixar, o que levou inclusive a que Angola pudesse assumir a dianteira, nos últimos oito meses, dos produtores de crude africanos.

De acordo com especialistas, este cenário tende a beneficiar Angola porque, sendo um importante produtor, não está entre os maiores do mundo com os seus cerca de 1, 7 milhões de bdp, e as reduções que a OPEP vier a impor aos seus membros, não afectarão tanto Angola como outros países com maior produção.

O benefício de Angola é ainda sublinhado numa outra dimensão: devido à sua dependência do petróleo, quaisquer variações no preço do barril têm um impacto considerável na sua economia, podendo o deve - diminuição eventual de produção para ajudar a OPEP a exercer pressão de subida - ser consideravelmente inferior aos benefícios do haver - aumento do preço nos mercados internacionais.