Por estar no poder há tanto tempo, é legítimo que muitos se perguntassem sobre o que de novo o Presidente ainda tem para dizer ou então que engajamentos com futuro ou compromissos pode o presidente fazer, tendo anunciado previamente a sua retirada da cena política.
Também interessante é o facto de o cidadão comum, ouvido pelas rádios e televisões, ter focado a sua expectativa em torno da apresentação de novos caminhos para a saída da crise e também, no plano político, em torno da definição de um quadro político que permita a realização de eleições livres, justas e resultantes da real expressão popular.
No entanto, ao fim de 50 minutos de comunicação, restou apenas uma sensação de vazio, onde basicamente as expectativas ficaram só por isso mesmo e não foi apresentada nenhuma novidade.
A desilusão que se seguiu teve também a ver com o facto de se ter permitido que a comunicação social criasse uma enorme montanha que pariu um ratinho. Foi criada a ideia de que o Estado da nação seria a panaceia universal para todas as enfermidades da economia.
Com o voluntarismo e engajamento militante a que nos habituaram, muitos órgãos de comunicação social acabaram por empurrar o Presidente para uma armadilha já que a expectativa popular era de tal monta que o único caminho seria a desilusão.
Nenhum discurso traria, como se deixou que os populares acreditassem, as mágicas receitas para sair da crise, para alavancar a economia e para combater os problemas sociais como o desemprego e a criminalidade. Dissesse o que dissesse, saberia sempre a pouco e haveria sempre uma sensação de desajuste com o cidadãos.
Em fim da legislatura, seria, por outro lado, lógico esperar-se que o Presidente da República optasse por fazer um balanço dos fracassos e das vitórias no cumprimento dos principais compromissos políticos que em 2012 conquistaram o voto de confiança dos eleitores. Fazia falta assumir na primeira pessoa, os brutais insucessos e incumprimentos alguns dos quais vale a pena recordar: a promessa de realização das autarquias; o compromisso de aumentar consideravelmente a qualidade de ensino a todos os níveis do sistema de educação; a promessa de construção de uma nova Biblioteca Nacional e implantação de Bibliotecas Públicas em todo o País; o compromisso de definição de incentivos específicos para apoiar a agricultura familiar; a promessa de assegurar o acesso de 50.000 jovens ao crédito bonificado, visando a melhoria das suas condições de vida (habitação, pequenos negócios, estudo, etc.); ou também a promessa de alcançar uma produção anual de 2,5 milhões de toneladas de cereais; 1 milhão de toneladas de grãos (feijão, amendoim e soja); 20 milhões de toneladas de mandioca; e 1,5 milhão de toneladas de batata rena.
(Pode ler este artigo na íntegra na edição n.º 454 do Novo Jornal, nas bancas e também disponível em versão digital, que pode pagar via multicaixa)
*Membro do Observatório Político e Social de Angola