Nsimba Celestina é uma das 61 mil terapeutas tradicionais registadas pela Câmara Profissional dos Terapeutas de Medicina Tradicional em Angola. Não obstante o país possuir uma extensão e variedade vegetal assinalável, os terapeutas reconhecem que, nos últimos tempos, o panorama não tem sido fácil, pela grande procura de espécies consideradas medicamentos.

"Somos 61 mil terapeutas tradicionais e, contando com os que não estão registados, a procura de medicamentos nas florestas é imensa", explica.

Nas províncias de Cabinda, Huambo, Uíge, Benguela, Kwando-Kubango, Zaire, Bié e Kwanza-Norte, a também conhecida Mama Nsimba já tem um staff que a ajuda a recolher plantas com propriedades curativas. "Para entrar nas matas é preciso avisar o soba da aldeia. Se assim não fizer, podes ter problema com as autoridades locais", confessa a fonte.

De acordo com a mulher, a procura pelos "medicamentos" é relevante, havendo já dificuldades para encontrar algumas plantas de extrema importância em tratamentos tradicionais.

"Nós pagamos às pessoas que nos ajudam a recolher medicamentos e que nos mostram onde ficam as plantas do nosso interesse", precisou, sem avançar o valor que é pago pelo trabalho de recolha.

Com a sua experiência na medicina tradicional, esta mulher, de 43 anos, natural da província do Zaire, diz que actualmente as populações já reconhecem o valor da terapia tradicional, uma vez que os resultados são visíveis, pois vem-se revelando, cada vez mais eficaz, pouco dispendiosa e praticada com base em plantas e raízes naturais.

Mamã Nsimba aponta o caso de uma mulher com dificuldades em engravidar e que, após ter recorrido a hospitais do país e do estrangeiro, sem sucesso, foi bater à sua porta. Submetida ao tratamento, a mulher, de 30 anos, já teve dois partos sem complicações.

"Aqui, no meu centro, as pessoas são curadas com a ajuda de Deus", gaba-se, afirmando que, às quartas e quintas-feiras, trata diariamente mais de 300 pessoas com patologias diversas. Para o terapeuta Domingos Zonzo "a prática da medicina tradicional e outras acções complementares, usadas fundamentalmente em muitas regiões do país para tratar certas doenças, têm servido também para promover a saúde pública junto das populações".

Mas, como em tudo, há o reverso da medalha. "Há muita gente nas matas à procura de medicamentos e muitas das plantas correm o risco de desaparecer", disse, preocupado. "Temos vindo a apelar às pessoas que devemos arrancar uma planta onde há três ou quatro. Se só houver uma, não podemos", acrescentou.

A Floresta de Mayombe, graças à sua grande extensão e variedade vegetal e hí- drica, é um dos ecossistemas com maior biodiversidade do planeta, que concentra uma enorme quantidade de plantas.

De acordo com a terapeuta Bunga Sebastião, muitas plantas medicinais, nesta floresta, estão em risco de extinção por causa da procura descontrolada. A extinção das espécies pode dificultar a descoberta de tratamentos para várias doenças, com graves prejuízos para todos.

"Na floresta de Mayombe, cidadãos dos dois Congos pilham muitas plantas medicinais muito importantes", alertou, salientando que a perda destas plantas pode acarretar consequências impensáveis no futuro.

O terapeuta Trajano Nakova é um dos que não tem problemas para conseguir medicamentos nas matas. Segundo ele, "a Medicina Tradicional é baseada em culturas e práticas ancestrais que remontam a milhares de anos.

Antecede a medicina moderna e trata as doenças, principalmente à base de plantas, ervas, raízes e outros derivados vegetais". Segundo a nossa fonte, o crescimento da Medicina Tradicional é um fenómeno social inegável nas mais diversas regiões do mundo.

"A Organização Mundial de Saúde criou o Programa de Medicina Tradicional, na década de 70, e vem, desde então, a estimular o seu uso", justificou.

Para o terapeuta Carlos Moyo, "a terapia tradicional tem duas vertentes, uma religiosa e outra científica, por isso é possível curar todo o tipo de doenças, incluindo as enfermidades do foro mental e outras patologias ainda sem solução de tratamento na medicina moderna". Esse potencial tem sido reconhecido no país. "A medicina não convencional tem sido incentivada pelo governo de Angola, abrangendo ervanários e naturistas", sublinha.

Publicado recentemente pela Organiza- ção Mundial de Saúde "OMS", o documento "Estratégias para o Desenvolvimento de Medicina Tradicional 2014-2023" pretende promover o desenvolvimento da medicina tradicional através da aplicação de políticas estratégicas, reforçando assim a sua qualidade, eficácia e segurança.

A medicina tradicional é uma importante fonte de cuidados de saúde para muita gente que procura tratamento.