A detenção deste chefe da guerrilha ruandesa foi avançada pela AFP, que cita o major Guillaume Ndjike, um dos porta-voz do exército na região.

O oficial rebelde detido é o coronel Habiarimana Mucebo Sofuni, comandante encarregue dos serviços de inteligência no estado-maior general da FDLR, no leste da RDC.

As FDLR foram criadas pelos Hutu ruandeses refugiados no leste da RDC, após o genocídio de mais de 800 mil Tutsi no Ruanda, em 1994.

A FDLR não tem acção no país de origem e é apontada por várias organizações internacionais como tendo objectivamente interesse nas riquezas do subsolo congolês, sendo essa uma das razões para se manterem em actividade há tanto tempo sem razão aparente, exceptuando a necessidade de se protegerem da perseguição de que muitos dos seus responsáveis são alvo por parte do Tribunal Penal Internacional e outras organizações de justiça internacional.

Mas esta detenção surge num momento importante para a RDC, onde se procura evitar uma escalada na violência por causa do adiamento das eleições presidenciais que devem marcar a saída de cena do Presidente Joseph Kabila.

A instabilidade provocada pelas guerrilhas do Ruanda, a FDLR, e do Uganda, a ADF, é considerada como uma das razões para a dificuldade que o país tem mostrado para encontrar a estabilidade e a paz permanentes.

Fim da crise na RDC está a ser tentado em Luanda

Luanda é por estes dias palco de um dos mais decisivos encontros preparatórios para o futuro da República Democrática do Congo (RDC), tendo começado, segunda-feira, pela reunião de peritos dos países da região e das organizações internacionais que deverá preparar as decisões a tomar na quarta-feira pelos chefes de Estado.

Em cima da mesa vai estar a transição política na RDC e o seu futuro pós-Joseph Kabila.

A reunião de quarta-feira deve, se tudo correr como planeado, trazer a Luanda a maioria dos chefes de Estado e de Governo dos países da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), presidida por Angola, e ainda alguns convidados, como os presidentes do Quénia e da África do Sul.

Sendo uma iniciativa da liderança angolana da CIRGL, este encontro teve, desde logo, a adesão e co-organização da ONU, da União Africana e da SADC, com manifestação de interesse para participarem como observadores dos Estados Unidos da América e da União Europeia, entre outros.

Em causa está, como tem sido sobejamente noticiado, evitar que a RDC se transforme num campo de batalha por questões políticas, destacando-se o problema da transição do poder de Joseph Kabila, a terminar o seu segundo e constitucionalmente último mandato entre Novembro e Dezembro.

Num segundo plano, o adiamento das eleições presidenciais por um período ainda não totalmente definido, que pode ir dos 18 meses aos dois anos, alegadamente porque o país não teve capacidade financeira para realizar atempadamente a actualização do registo eleitoral.

E este é que é o cerne da principal questão, porque a oposição que importa na RDC, liderada por Etienne Tshisekedi, da União para a Democracia e o Progresso Social (UDPS), acusa Kabila de ter recorrido a esse expediente para se manter artificialmente no poder, no seguimento de uma desastrada tentativa realizada em Janeiro de 2015 para alterar a Constituição por forma a que esta permitisse que o Chefe de Estado concorresse a um terceiro mandato.

Em ambas as ocasiões, Janeiro de 2015 e Setembro deste ano, dezenas de pessoas morreram nas ruas de Kinshasa, em violentos confrontos com as forças de segurança, no seguimento de manifestações convocadas pela oposição face às investidas "inconstitucionais" da Maioria Presidencial (MP) que apoia o Presidente congolês-democrático.

A incógnita Tshisekedi

Para este encontro de Luanda, segundo analistas ouvidos pela imprensa independente de Kinshasa, e fontes angolanas conhecedoras da história efervescente do país vizinho, a grande esperança é que seja possível encontrar uma fórmula para que a oposição que se mantém fora do acordo político alcançado entre a MP de Kabila e alguns partidos da oposição, liderada por Tshisekedi, se sinta confortável a integrar esse acordo, com, naturalmente, algumas alterações significativas.

Recorde-se que Etienne Tshisekedi já mostrou a sua total rejeição ao acordo entre a MP e alguns pequenos partidos da oposição, mantendo a garantia de que vai mostrar um "cartão vermelho" a Kabila no dia em que o seu mandato terminar, negando autoridade aos signatários do referido acordo para falarem pelos congoleses, lembrando que a sua UDPS tem mais representatividade que eles todos juntos.

Seja como for, organizações como a ONU e a União Africana apressaram-se a elogiar o acordo e a considera-lo como um bom ponto de partida para sobre ele erguer a estabilização da RDC, apontando-se para este encontro de Luanda, que hoje arranca com os peritos à mesa de trabalhos, e culmina na quarta-feira, com os chefes de Estado e de Governo a acertarem agulhas e pormenores para a estratégia que vier a se definida.

Porque, como pano de fundo a este esforço internacional, está claramente o desenhar de um mapa que permita a todos os actores da crise política na RDC seguirem os trilhos necessários para uma saída airosa e sólida e garante de que o país não tomba perigosamente para o caos, como muitos, efectivamente, temem que venha a acontecer, apesar destes mesmos esforços.

Isto, porque, como lembram ainda vários analistas, para resolver o problema, bastaria que Joseph Kabila aceitasse sair do poder no final do seu mandato e que um Presidente e um primeiro-ministro interinos garantissem o poder até que estivessem reunidas as condições para as eleições presidenciais e legislativas, provavelmente só em 2018.

O desconforto continental

Apesar de este encontro de Luanda ter como sustentação oficial a discussão do Acordo-Quadro de Paz, Segurança e Cooperação da ONU para a RDC e a Região, onde constam as questões igualmente quentes do Burundi, Sudão do Sul e da República Centro Africana, aquilo que o mundo está à espera é que a instabilidade da RD Congo tenha aqui, pelo menos, um travão se não for possível encontrar uma solução definitiva.

Até porque, mesmo que não fosse necessário, Joseph Kabila já avisou que a instabilidade na RDC tem um forte potencial de contaminação para a região dos Grandes Lagos, devido às suas incandescentes fronteiras com o Burundi, Ruanda e Uganda, entre outros. E os Grandes Lagos são o coração do continente africano.

Mas também porque o país tem imensas riquezas naturais fortemente cobiçadas regional e internacionalmente, como é sobejamente conhecido.

Como é que as diferentes sensibilidades regionais, desde os mais radicais que defendem a saída imediata de Kabila, aos mais tolerantes com o Presidente congolês-democrático, se vão comportar para que seja possível confluir num ponto comum, é a grande questão em cima da mesa no encontro de Luanda.

E sabe-se que o mundo está à espera para ver o que sairá da capital angolana...