Quando se aperceberam que o rapaz não se mexia, ainda alertaram a prima, que se encontrava num quarto ao lado, mas não foram a tempo de evitar a tragédia.

O caso provocou choque no Brasil e deu fôlego a uma discussão que devia ser replicada noutras latitudes, pela forma como este tipo de desafios se propaga e populariza.

Não era a primeira vez que o adolescente entrava no jogo, como revelam conversas encontradas no computador. Desta vez, como explicou o tio, Marco Riveiros, o sobrinho terá sido induzido pelos outros adolescentes por ter perdido no jogo de vídeo «League of Legends».

Os participantes são desafiados a recorrer a cordas, cintos ou outros objectos que interrompam o fornecimento de oxigénio ao cérebro, para desmaiarem e acordarem em euforia, como se estivessem sobre o efeito de drogas.

No Brasil este é o primeiro caso de morte. Nos EUA, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, de 1995 a 2007, pelo menos, 82 crianças e adolescentes perderam a vida. França regista uma média de 10 mortes por ano. E, no Brasil, descobriu-se, após a morte do adolescente, que esta era uma brincadeira relativamente corrente.

"Saiu do âmbito de ser uma brincadeira praticada por um grupo de jovens para uma que começou a tomar conta da internet e das redes por causa das câmaras nos computadores, nos telemóveis e nos tablets, onde os jovens se desafiam uns aos outros", alertou o neurologista e especialista brasileiro em comportamento Ricardo Monezi, à Agência Lusa.

Ao verem pela internet, muitas crianças e adolescentes pensam que "é uma coisa muito simples"; outras, por audácia ou vergonha, não recusam o desafio e deixam-se levar. Em qualquer dos casos, a única forma de evitar tragédias, não é desligando a internet, mas mantendo as antenas alertas para a vida que os filhos têm online.

Não é só na internet que o perigo espreita.

Uma jovem, de 16 anos, foi violada e torturada até à morte na Argentina. A brutalidade do crime fez com que milhares de mulheres saíssem à rua, esta semana, num protesto que foi replicado em vários países da América Latina, onde a violência contra as mulheres tem índices dramáticos.

"Na Argentina, nós lutamos por todas as mulheres que são mortas todos os dias", escreveu uma das participantes, no Facebook, num comentário onde postou várias fotografias da manifestação. A chuva não desmobilizou os protestos, nem a determinação dos organizadores que incentivaram a realização de manifestações no México, El Salvador, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai e Brasil, sob a hashtag #NiUnaMenos.

Segundo a ONG La Casa del Encuentro, que ajuda vítimas de violência de género, a cada 30 horas, uma mulher é morta na Argentina. O indicador bate certo com os dados de Elena Highton, juíza do Supremo Tribunal, que revelou à imprensa que os "casos de feminicídio estão a crescer, a tornar-se mais violentos e mais perversos". Nos últimos 18 dias, anteriores à marcha, houve registo de 19 mortes de mulheres.

Lucía foi uma delas. A jovem foi raptada, drogada, violada, penetrada com objectos e torturada. A violência do ataque foi tal, segundo a procuradora Maria Isabel Sánchez, que a adolescente sofreu uma paragem cardíaca. "Foi um acto de agressão sexual inumano", descreveu a magistrada.

Lucía é uma entre as centenas de mulheres que todos os anos morrem na Argentina às mãos dos namorados, maridos ou mesmo desconhecidos, vítimas de agressões, o que levou a ex-Presidente Cristina Kirchner a introduzir legislação que penaliza especificamente o crime de feminicídio. Apesar disso, o número de mortes não pára de crescer, tal como acontece nos outros países que aderiram à marcha. Não chega endurecer a lei, ou apertar o cerco aos agressores. É preciso des-sexualizar a mulher, romper com o estereótipo da mulher-objecto.

Atingir esse objectivo é muito difícil quando o sexo passa para o primeiro plano do discurso político, como sucede, por exemplo, nas presidenciais americanas. Para além dos escândalos e acusações dos abusos sexuais dirigidas ao candidato republicano e ao marido da candidata democrata, Madonna prometeu esta semana fazer sexo oral aos que votarem em Hillary Clinton. Mesmo que seja uma piada, alimenta o ímpeto da predação.