Esta advertência foi feita no arranque dos trabalhos da Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Região dos Grandes Lagos e das organizações regionais e sub-regionais, que hoje está a ter lugar na capital angolana, para debater as questões da paz e segurança na região, com destaque para a crise em curso na RDC.

José Eduardo dos Santos, referindo-se claramente aos dirigentes dos partidos políticos que recentemente optaram por ficar de fora do acordo para a transição política na RDC, que ficará marcada pela saída do poder do Presidente Joseph Kabila, lembrou que um país é mais fácil de governar em paz e segurança do que "devastado" por conflitos.

Isto, porque, como tem sido largamente noticiado, com o adiamento das eleições presidenciais na RDC, que deveriam ter lugar nas próximas mas foram adiadas, pelo menos, para Abril de 2018, alguns dos principais lideres políticos congoleses-democráticos, como o histórico Etienne Tshisekedi, da UDPS, não aceitaram os termos do acordo produzido através do diálogo entre a Maioria Presidencial (MP) de Kabila e alguns partidos com expressão relativa na sociedade consolesa.

Começando por fazer um retrato da situação na RDC, desde o adiamento das eleições ao acordo de transição, marcado pelo compromisso de Kabila manter o poder até à realização das eleições, com um primeiro-ministro nomeado pela oposição, José Eduardo dos Santos, num tom conciliador, apelou à participação de todos, mas não deixou de deixar alguns avisos à navegação, como, por exemplo, o risco de a situação resvalar para a violência, o que, advertiu, não beneficiaria ninguém.

"Desejamos vivamente que seja possível criar um Governo de unidade nacional de transição, que permita por fim ao clima de instabilidade", disse.

E acrescentou: "Para aqueles que querem chegar ao poder, é importante que saibam que o podem fazer, mas democraticamente, respeitando a lei e a vontade soberana dos eleitores. Valerá a pena esperar mais alguns meses para o fazerem em condições de segurança e tranquilidade em vez de se enveredar pela violência".

Ainda num contexto de sinalização dos perigos que estão ao virar da esquina do futuro na RDC, José Eduardo dos Santos reiterou que "é importante que saibam (os protagonistas políticos) que só em paz e com estabilidade é possível levar-se a cabo um processo eleitoral sério, honesto e credível, tanto para o povo que vai votar como para a comunidade internacional que vai testemunhar".

"Na República Democrática do Congo, o Governo, a oposição e a sociedade civil não podem perder de vista o facto de que todos devem conjugar esforços contra as forças negativas e as ameaças da expansão do terrorismo", disse.

Retrato da situação na RDC

Recorde-se que como pano de fundo de todo este esforço, que é uma iniciativa de Angola, enquanto país que preside à Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), está o adiamento das presidenciais na RDC e a não aceitação por parte dos mais importantes partidos da oposição do acordo que alinhava os termos da transição política no país.

Este encontro é dirigido pelo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, e os trabalhos contam ainda com os contributos do Presidente do Tchad e presidente em exercício da União Africana, Idriss Deby, do Rei Mswati III da Suazilândia, e presidente em exercício da SADC e do enviado do Secretário-Geral da ONU para os Grandes Lagos, Said Djinnit.

Para além dos lideres das organizações regionais e representante da ONU, estão ainda na capital angolana os Presidentes da RDC, Joseph Kabila, da África do Sul, Jacob Zuma (como convidado), da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, ou Edgar Lungu, da Zâmbia, entre outros.

De acordo com o programa, os trabalhos decorrem à porta fechada e só no final do encontro, previsto para meio da tarde de hoje, é que será lido, pelo ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, um comunicado onde será sintetizado o resultado conseguido.

A CIRGL é composta por 12 países: Angola, Burundi, Zâmbia, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, República do Congo, Quénia, Uganda, Rwanda, Sudão do Sul, Sudão e Tanzânia.

É ainda de lembrar que a preceder este encontro, que é formalmente justificado com a discussão dos assuntos mais prementes para a região, constando destes, para além da RDC, a situação na RCA e no Sudão do Sul, e convocado no âmbito do Acordo-Quadro para a Paz e Segurança na RDC e dos Grandes Lagos, está o turbilhão político em Kinshasa.

E que, por causa desse turbilhão, o próprio Presidente Kabila já avisou o mundo de que o potencial de disseminação da instabilidade a partir da RDC é tremendo, não só para os Grandes Lagos mas para todo o continente africano.

E, como se não fosse bastante, um dos principais lideres da oposição congolesa, que se manteve de fora do acordo entre a Maioria Presidencial (MP) de Kabila e alguns pequenos partidos, Etienne Tshisekedi, o mais aguerrido e antigo opositor do Presidente da RDC, já disse que não aceita os termos do acordo e mantém a exigência de que o Chefe de estado deixe o poder a seguir ao terminus do seu segundo e último mandato, que é agora, em Novembro/Dezembro.

O acordo conseguido foi visto pela generalidade da comunidade internacional como uma oportunidade interessante, mas insuficiente, apesar de determinar que o primeiro ministro de transição será indicado pela oposição e que as eleições terão lugar em Abril de 2018, quase um ano e meio para lá do calendário inicialmente determinado pela Constituição da RDC.

Segundo analistas ouvidos pela imprensa congolesa, o que melhor serviria os que hoje se reúnem em Luanda seria encontrar uma fórmula que garantisse a adesão ou, pelo menos, a aceitação tácita, do acordo conseguido em Kinshasa, por parte das organizações da sociedade civil, sindicatos e e partidos que se mantiveram de fora, como a UDPS, de Tshisekedi.