Convivendo mal com a crítica, em sentido contrário, houve quem visse nelas o ensaio para uma conspiração arquitectada por forças ocultas desejosas de provocar um clima de desestabilização contra a ordem vigente.

Estivemos em ambos os casos perante apreciações díspares que têm, todavia, de ser encaradas como sendo absolutamente normais numa sociedade plural que, rejeitando alimentar-se de gente calada, toma a diferença como a sua principal seiva vivificante.

Em vez de informação, escrevi na semana passada que o MPLA prefere privilegiar a propaganda. Nada tenho contra essa arma mas, num tempo moderno, recuso ser dopado pelos seus efeitos alucinogénios.

A propaganda é, toda ela, ineficaz? É claro que não!

Num contexto de "guerra fria", como aquele em que vivemos até há alguns anos a esta parte, em que todos os meios justificavam os fins, nunca tive dificuldades em reconhecer a sua eficácia.

Foi uma "arma de combate" magistralmente utilizada tanto pelo regime colonial português, como pelo MPLA, FNLA e UNITA durante a luta fratricida que travaram entre si.

Basta recuar no tempo e lançar um olhar sobre o ribombar dos comunicados de guerra emitidos pela "Voz de Brazzaville" no programa "Angola Combatente" pelas vozes de Adolfo Maria e Simeão Cafuxi.

As informações bombásticas então difundidas em primeira mão a partir da capital congolesa, retratavam o dia-a-dia da guerrilha, descreviam com espantosa minúcia o quotidiano da luta clandestina no interior e denunciavam, de forma veemente, as barbaridades do sistema colonial e a actividade dos "bufos" ao serviço da PIDE-DGS.

Nas cidades, instalava-se a incredibilidade perante a pujança e o "poder de fogo" das notícias veiculadas pelos "irmãos cambutas", ou seja, "os terroristas" como eram catalogados pelos colonialistas, os combatentes integrados nos movimentos de libertação.

Basta recuar no tempo e recuperar a forma cirúrgica como, a partir de Brazzaville, era retratado o dia-a-dia da luta anticolonial em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau e da causa dos militantes antifascistas portugueses que se batiam pelo derrube do regime salazarista.

Tudo isso era possível graças em parte também à acção organizada pelo movimento clandestino que, a partir do interior, enviava mensagens codificadas para o exterior.

Basta recuar no tempo e voltar a ouvir o famoso "Ponto da Situação Político-Militar" que, ao fim de todas as tardes, em pleno período da "Resistência Popular Generalizada", era disparado por Júlio de Almeida, o mítico comandante Juju.

(...)

Por mais paradoxal que possa parecer, um dos companheiros inseparáveis da nossa propaganda é o secretismo. É a ocultação de informação de interesse público cujo acesso à opinião pública é muitas vezes vedado por ser classificada "segredo de estado".

Por isso é que pouca gente sabe que o governador do BNA, na sua recente visita à Itália, se permitiu convidar o Papa a visitar o nosso país durante a audiência que lhe fora concedida por D. Ângelo Betcho, subsecretário do Sumo Pontífice e antigo Núncio Apostólico em Angola.

(Leia este artigo integralmente na edição n.º462 do Novo Jornal, nas bancas e também disponível em edição digital, que pode pagar via Multicaixa)