Um pesquisador espanhol, meu amigo, disse-me que ao chegar ao nosso país e ao ver determinado canal de televisão a imagem com que se fica é a de que em Angola todas as pessoas dançam, cantam e fazem festas a toda hora em torno das suas lideranças políticas, religiosas e por aí em diante. Bom seria se todos os dias fossem assim e mau seria se todos nós fôssemos assim!

Entre todas as visões estereotipadas e desentendidas, o comentário mais inteligente que já ouvi foi de um sacerdote católico de nacionalidade espanhola que conheci. Ele, que viveu em Angola muitos mais anos do que eu, disse que o nosso país aposta tanto na propaganda que a imagem vendida no exterior é a de um paraíso, onde todo o mundo é alegre o tempo inteiro mas, quando se chega, o que se vê é uma realidade bem diferente, somos um país como muitos, com os seus males e com as suas virtudes.

É claro que não se conhece um país antes de o visitar, mas seria bom se mundo afora todos soubessem como as coisas funcionam em Angola.

Certa vez, absurdamente, perguntaram-me: "Como vocês conseguem ter altas taxas de mortalidade infantil se estão entre os países que mais cresceram economicamente?" Outra vez um jornalista italiano disse-me que optou por não vir cobrir o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins porque temia morrer devido a doenças que hoje em dia são evitáveis, tais como a malária, a febre-amarela e tantas outras que ainda hoje provocam muitas vítimas mortais entre nós. Todo esse preconceito não condiz com a realidade, mas dá para entender de onde o medo vem, não dá? Claramente que vem das atitudes, comportamentos e práticas das nossas lideranças políticas, económicas e religiosas.

A parte boa é que, mesmo naqueles países onde a imigração é um problema social, sempre tive uma boa reacção quando digo que sou angolano. Os angolanos, diferente de muitos outros povos que lá chegam, são sempre bem recebidos. E em todo lugar se torna inevitável ter uma boa conversa sobre o nosso país e as suas potencialidades, petróleo, diamantes, etc...

Mas se alguns têm uma visão distorcida sobre a nossa nação, é porque durante estes anos todos o país vendeu uma imagem incompatível com aquilo que realmente é, e não porque algumas pessoas dizem o que pensam exactamente sobre o nosso país. Por isso, como angolano, entristeço-me.

Não por causa da nossa imagem e reputação no exterior, mas muito mais pelo facto de o país desejado estar muito aquém do país conseguido. Se alguém tiver dúvida, basta consultar os principais índices internacionais e ver como estamos tão mal colocados!

*Coordenador do Observatório Político e Social de Angola

Artigo publicado na edição n.º462 do Novo Jornal, de 16 de Dezembro de 2016