A proposta do Governo de Ouattara para as reivindicações dos militares, focadas essencialmente em questões de natureza salarial, obteve uma reacção violenta por parte de várias dezenas de soldados armados que impediram o ministro da Defesa de deixar o local onde estava, na cidade de Bouaké, dando início a mais uma insurreição no país.

O governante que tutela a pasta da Defesa foi retido à força de repetidos disparos de espingardas automáticas AK-47 e também, segundo as agências, de lança-foguetes do tipo RPG.

Estes acontecimentos tiveram lugar ao início da noite de ontem e já hoje de manhã, segundo a imprensa do país, o Presidente Alassane Ouattara regressou ao contacto com o público, via televisão, para anunciar que foi encontrada uma plataforma de entendimento com os soldados amotinados ou em protesto desde sexta-feira, obtendo assim a libertação do seu ministro da Defesa.

A cidade de Bouaké foi o palco de mais este episódio violento envolvendo as Forças Armadas da Costa do Marfim, cujo registo dos últimos anos tem sido de situações de violência contra as estruturas do Estado umas atrás das outras, nomeadamente em 2014, quando um motim militar nesta mesma cidade arrastou o país inteiro, e a sua capital, Abidjan no centro da violência, para o caos.

Recorde-se ainda que a Costa do Marfim foi por uma década, a partir de 2002, um país dividido, com o poder partilhado por Bouaké, onde estavam os rebeldes do actual Presidente Ouattara, e Abidjan, controlada pelo Governo de Lourent Gbagbo, que acabou deposto e humilhado, ao mesmo tempo que o seu "inimigo" Alassane assumia o controlo do Estado.

Para colocar um ponto final em mais esta convulsão, Alassane Ouattara, que corria o risco de ser ele agora a vítima do descontentamento daqueles que lhe abriram as portas do poder, veio a público acalmar os ânimos ao confirmar que os soldados amotinados aceitaram o acordo proposto, cujos contornos são, essencialmente, a "apreciação das reivindicações relativas aos prémios e melhoria das condições de vida".

Vai ser, agora, a partir dessa apreciação das cedência do Governo que a normalidade será retomada ou, como o histórico permite temer, que a violência se imponha de novo na Costa do Marfim.