(Parte 2: Doentes)

Tal como milhares de conterrâneos nossos, todos os anos sou obrigado a deslocar-me ao estrangeiro por razões de saúde (Barcelona para visão; Windhoek, clínica geral e repouso; África do Sul, urologia, fertilidade e cardiologia; Cuba para outras especialidades, como ortopedia, oncologia e respiração; sem esquecer a Tuga nossa de cada dia)!

Viajo não por banga ou estilo, mas sim porque os nossos serviços de saúde públicos e privados não nos deixam alternativa em face da péssima qualidade que os mesmos prestam aos pacientes que se deslocam a essas instituições em busca de algum alento ou, pelo menos, atendimento com alguma réstia de humanismo, sem esquecer os altos preços cobrados pelas consultas, exames e outros serviços nas clínicas privadas, sem haver reflexo na qualidade ou ainda o desleixo no (não) atendimento que nos oferecem nos hospitais públicos.

Para ter uma ideia, o que gasto em Barcelona ou Windhoek nas consultas, exames e tratamentos cá serviria provavelmente para a primeira consulta, sem exames nem nada, e sem ter a certeza que o diagnóstico e o respectivo tratamento são os mais acertados.

Como vê, é mesmo necessidade extrema que nos faz embarcar comos nossos kofeles recursos para gastá-los em outros países em desprimor do nosso, onde o dinheiro tem feito muita falta. No estrangeiro, fora a saúde, pagamos ainda alojamento, transporte, tradutor, alimentação e comunicação.

No entanto, a rede bancária nacional nos tem criado sérios obstáculos quando solicitamos divisas para nos deslocarmos para o exterior com vista a tratarmos da nossa saúde e alongarmos um pouco mais a nossa esperança de vida, algo que não seria possível se nos limitássemos a aceitar o (des)tratamento médico que nos têm oferecido cá em Angola. Sabe o que é ter um parente seu a soçobrar na mesa da sala de operações e ter a cirurgia cancelada porque o cartão VISA de um banco angolano não funciona, mesmo tendo sido carregado com o plafond máximo permitido!? Sabe que é ser posto na rua por falta de pagamento de quarto de hotel porque o VISA não funcionou?

(Este artigo de opinião dá continuidade à "Carta Primeiro dos Estudantes", publicada na edição de 22 de Dezembro de 2016, e pode ser lido na íntegra na edição semanal nº 464 do Novo Jornal, nas bancas, ou em edição digital, que pode pagar via Multicaixa)