Dos negócios de família à especialização no universo da arte africana, passando por um olhar crítico sobre a actualidade política em Angola e na República Democrática do Congo (RDC), sem esquecer a relação com a mulher, Isabel dos Santos, e com o sogro, José Eduardo dos Santos, nenhum tema parece ter ficado de fora da entrevista de Sindika Dokolo à Jeune Afrique, concedida em Londres.

Ao longo de oito páginas, publicadas na mais recente edição da revista panafricana - que saiu para as bancas no último domingo -, o coleccionador de arte africana abriu o "livro da sua vida", iniciada na RDC.

"Sindika Dokolo não é "nem o marido de" nem um novo rico", escreve a publicação na apresentação do entrevistado, para muitos conhecido por ser casado com a empresária Isabel dos Santos.

Herdeiro de um império construído pelo pai, Augustin Dokolo Sanu - que tem no Banco de Kinshasa um dos baluartes -, o congolês especializou-se no mercado de arte africana, que, a par dos negócios, era uma das devoções do progenitor, já falecido.

Mas, mais do que coleccionar obras de arte, Dokolo dedica-se a recuperar peças roubadas no tempo colonial, missão concretizada com a ajuda de uma equipa internacional.

"Tenho um método bastante radical", revela o colecionador, sem esconder a ambição de "constituir a mais bela colecção de arte clássica do mundo. "Digo aos negociantes de arte: "Tenho um exército de advogados, tenho os meios financeiros para tornar a vossa vida miserável, posso fazer com que sejam vistos como inimigos de África, a expressão contemporânea dos racistas", ilustra o congolês, adiantando que a estratégia tem resultado.

Igualmente bem-sucedido revela-se o casamento com Isabel dos Santos, que Dokolo retrata como "um verdadeiro génio criador, um fogo que nunca se apaga", dona de uma força que lhe faz lembrar a "fibra" demonstrada pelo seu pai.

Incansável nos elogios à mulher, o empresário considera que a discussão sobre a sua nomeação para a presidência do conselho de administração da Sonangol "não faz sentido", atendendo ao seu percurso profissional.

"Não vejo ninguém mais competente e capaz do que a minha mulher para colocar a Sonangol em ordem. Basta ouvir o que os seus pares do sector privado dizem sobre a sua coragem e liderança. É um general que chamamos para o campo de batalha no momento decisivo", considera o coleccionador, sublinhando que a tarefa de Isabel dos Santos implica "mudar completamente a cultura" da petrolífera angolana.

Apesar dos laços familiares ao poder angolano, Sindika Dokolo garante que as relações com o Estado estão limitadas ao domínio cultural.

"Sei se o Presidente da República toca guitarra ou joga futebol, mas não o revelarei porque as minhas relações são com o meu sogro - ou seja, com o homem - e não com Chefe de Estado", assinala o congolês, frisando que não é "nem advogado nem confidente" de José Eduardo dos Santos.

Feita a ressalva, o empresário defende que o também líder do MPLA é muitas vezes incompreendido.

"Ele é bastante simples, são, e pouco falador. Mas, bizarramente, quando ele transmite algo de forma clara, poucos acreditam", lamenta o genro do Presidente da República, questionado sobre a sua anunciada saída da política activa em 2018.

"Que interesse teria ele em não o fazer?. Não está numa posição de vulnerabilidade, não há nenhuma crise interna no MPLA, ele desfruta de uma legitimidade histórica que todo o mundo reconhece, a oposição é frágil...se ele quisesse poderia voltar a candidatar-se", prossegue Sindika Dokolo, lembrando que a Constituição não impede um novo mandato de José Eduardo dos Santos.

Pelo contrário, na sua RDC, a continuidade de Joseph Kabila equivaleria a uma violação constitucional, refere o congolês, salvaguardando, porém, que o ainda Presidente "marcou a sua época".

"Ele restabeleceu a paz, promoveu o crescimento, devolveu autoridade ao Estado, teve pulso com os adversários. Por isso posso compreender que aos olhos dos seus apoiantes ele seja o melhor dos presidentes da história do país. Mas o respeito pela Constituição é importante", defende Sindika, moderadamente optimista em relação ao processo de paz em curso na sua RDC.