O nosso Jornal de Angola, que tanto o destratou durante anos, por vezes de modo inconveniente dada a sua condição de Presidente de um país amigo, admitiu, agora, ter sido ele o "pai da democracia portuguesa", epíteto historicamente incorrecto, dada a quantidade enorme de personalidades que concorreram para que Portugal fosse o que é hoje.

Foi igualmente interessante, embora acredite que o tenha feito pelo mote, muito acertado, da mensagem de pesar do Presidente José Eduardo dos Santos.

Na minha opinião, Mário Soares pecou na sua actuação em relação a Angola. Desde logo pelo facto de, na condição de Primeiro-Ministro na altura, não ter reconhecido o primeiro Governo de Angola independente, ao contrário de todos os outros países de língua oficial portuguesa, incluindo o Brasil, na altura vivendo sob uma ditadura militar, e de outros países europeus, como por exemplo a Itália.

Essa atitude inquinou as relações entre os dois países até aos dias de hoje. Depois, porque não usou o seu capital político para, apesar da guerra fria, tentar soluções políticas no conflito angolano.

Estou convencido que no período de 1976 a 1980 - quando a situação se agudizou com a chegada de Ronald Reagan à Presidência dos EUA - Mário Soares tinha condições para intermediar, de modo sério, uma solução global para os problemas da África Austral.

Por fim, estou lembrado das diligências feitas por Mário Soares para impedir o reconhecimento do Governo de Angola saído das eleições de 1992 pelo Presidente Bill Clinton, que felizmente, não seguiu o conselho que não foi pedido.

(Análise integrada no Especial Informação da edição n.º465 do Novo Jornal - dedicado a Mário Soares, ex-Presidente português falecido no passado dia 7 de Janeiro -, que pode ler integralmente em versão impressa, nas bancas, ou em formato digital, cujo pagamento está disponível via MultiCaixa)