Para os politólogos, analistas e o povo em geral, isso caiu como uma bomba. Inesperada? Pode ter sido. Mas para alguns de nós, entre os quais me incluo, não foi surpresa. Senão vejamos: em "AS MINHAS ELUCUBRAÇÕES XXV (Das intenções, das palavras e dos actos)" de Agosto de 2015 e em "AS MINHAS ELUCUBRAÇÕES XXX (Ainda: das intenções e das palavras aos actos)" de Março de 2016, dissertei sobre a sucessão a José Eduardo dos Santos (JES) tanto na liderança do Partido como na de Chefe do Executivo, tema abordado por JES, pela rama, em duas reuniões do Comité Central em 2 de Julho de 2015 e 11 de Março de 2016.

Nesta última reunião, o Presidente José Eduardo dos Santos anunciou, para dentro como para fora, que iria "cumprir o mandato [de PR] que nos termos da Constituição termina em 2017" e que deixaria "a vida política activa em 2018" [PP?].

Nessa sua declaração fica-nos agora claro que, na sequência da resolução aprovada na recente reunião do Comité Central (estranhadamente ainda não divulgada,) e em resultado das eleições "atípicas" a haver no próximo ano, José Eduardo dos Santos vai terminar o mandato constitucional em 2017, pelo que deverá ser substituído por João Lourenço nas rédeas do "Executivo". (Coisas da política: há mais de uma dezena de anos, João Lourenço, na altura SG do MPLA, fez uma longa mas confortável "travessia do deserto" por ter manifestado a estatutária possibilidade de se candidatar a PR se o Presidente dos Santos, "homem de palavra", não se candidatasse às próximas eleições.)

Quanto a "deixar a vida política activa em 2018", José Eduardo dos Santos candidatou-se na devida altura a Presidente do Partido (PP), nos termos dos Estatutos, e, no VII Congresso do MPLA, venceu sem concorrente e foi ovacionado por quase três mil congressistas ao rubro e de rubro enfarpelados.

Assim, a sua liderança partidária será para durar, em princípio, até 2022. Então como deixar a vida política activa em 2018? Isso pode suceder se, no decurso de 2018, José Eduardo dos Santos renunciar à liderança do Partido, o que, penso, acontecerá possivelmente na primeira reunião do CC, a meio do ano, para dar tempo à eleição de um novo líder num Congresso extraordinário e no prazo máximo de noventa dias.

Será que JES irá realmente resignar de líder do "partidão"? Se sim, qual o motivo, qual a razão?

(Este artigo pode ser lido na íntegra na edição semanal n.º 465 do Novo Jornal, nas bancas, ou em versão digital, que pode pagar via Multicaixa)