Este, como se sabe, é para os seus progenitores "o princípio e o fim do mundo." Mal sabem eles, porém, que nem sequer fazem parte da periferia do mundo. Mas deixemo-los pensar assim!
Mal sabem eles, porém, como escreve Rui Patrício, advogado português, que o seu umbiguismo "é apenas uma marca no baixo-ventre de pessoas que se acham ungidas" e que, "desconfiando de todos e isolando-se", têm do "afecto e do respeito", conceitos estranhos, "excepto no que diz respeito à marca que trazem no abdómen".
Para começar, seria bom que não voltássemos a ter alguns dos nossos mais notáveis juristas transformados em plagiadores de excelência de legislação portuguesa, transposta em regime de copy & paste para a realidade angolana.
E seria bom para quê?
Para que, a esse ritmo, não voltássemos a ser um dos maiores produtores de legislação importada do mundo sem que os seus cidadãos se apercebam da sua (in)utilidade!
Seria bom para que não nos esqueçamos que, ao nível do ensino médio e superior, alguns estudantes angolanos saídos do antigo Instituto Médio Makarenko e da Universidade Agostinho Neto até ao início da década de noventa se notabilizaram como finalistas brilhantes - e nalguns casos até docentes - em algumas das melhores universidades europeias, designadamente das portuguesas.
Seria bom ainda para começarmos a reter na nossa memória o nome dos angolanos que se distinguem no estrangeiro em areópagos de natureza académica e científica, quase sempre ignorados pela comunicação social.
Não espanta, por isso, que ninguém se lembre, por exemplo, que, na qualidade de Director do Centro de Estudos de Ciências Jurídicas e Financeiras, o sociólogo Octávio Van-Dúnem, em Setembro do ano passado, tivesse sido convidado pela CNUCED (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) para transmitir em Brazzaville a experiência de Angola como um dos raros países em África detentor de um curso de mestrado em "Direito, Gestão de Negócios e Gás" para a sua eventual adopção no Congo e no Chade.
Ninguém se lembra disso porque é uma intervenção e uma instituição que não dão fama. Ninguém se lembra disso porque não é matéria que abra os noticiários da televisão nem dê manchetes na imprensa.
Ninguém se lembra disso porque, exigindo esforço, dedicação e competências, não se ganha jogando o "El Gordo". Ninguém se lembra porque não integra a agenda do clube dos milionários.
Seria, por isso, intelectualmente desonesto o mundo não reconhecer os angolanos como campeões mundiais do delírio!
Senão - com recurso a um inevitável recuo a um tempo histórico - vejamos: logo depois da Independência inaugurámos uma padariazita - Kaxicane - e logo nos apressamos a catalogá-la como a maior panificadora de África!
A seguir, fizemos da África Têxtil, em Benguela, um modelo fabril único no nosso continente, para anos depois acabar por ter um fim ruinoso!
Em matéria de Expos, também ninguém nos retira a medalha de ouro e para insuflar o nosso ego pusemos a concurso público a disputa, há dois anos, em Milão, do maior pavilhão africano. Ora, quem haveria de ostentar ao peito, no final, o título de vencedor?
Angola, pois claro! Por 60 milhões de dólares, relembre-se, e já então em pleno período de aperto financeiro!
Para fazer arrotar o nosso ango-vanguardismo, desafiamos o talento jornalístico do planeta terra e exibimos na montra "um dos melhores repórteres do mundo" importado e contratado, "vitaliciamente", a preço de ouro por "um dos jornais mais democráticos do mundo".
O mundo não o conhece. O submundo lusitano, de onde é originário o "troféu", já se predispôs a meter "a cabeça na guilhotina" até o encontrar...
(A crónica de Gustavo Costa pode ser lida integralmente na edição nº 466, nas bancas, ou em digital, que pode pagar via Multicaixa)