Se olharmos para o quadro global de medalhas dos Jogos Olímpicos de Verão - de Atenas"1884 ao Rio de Janeiro"2016 -, evento que de forma mais ou menos objectiva serve de aferição do valor desportivo de cada nação, vemos os EUA com uma impressionante colheita de 1.022 ouros, 794 de pratas e 704 bronzes, totalizando 2.0520, em 27 edições. Seguem-se a extinta União Soviética (395+319+296=1.010, em 9), Grã Bretanha (263+295+289=887, em 28), Alemanha (247+196+208=613), China (227+164+152=543, em 10), França (212+241+261=714, em 28) e Itália (206+178+193=577, em 27).
Em contraponto, nos últimos lugares da lista dos 141 países que já conheceram a glória olímpica há 10 que lograram pelo menos uma medalha de bronze. Tratam-se do Togo, Ilhas Maurícias, Macedónia, Iraque, Guiana, Eritreia, Djibuti, Bermuda, Barbados e Kuwait. Como se pode perceber, mais de metade são de África, cuja economia padece de doenças várias.
Dos sete países do cimo da tabela olímpica - com excepção da ex-URSS, que só foi "grande" no desporto porque apostou tudo e mais alguma coisa para provar a superioridade do sistema Socialista -, todos integram o Top-10 das maiores economias do Mundo. Na dezena de nações que conformam as maiores riquezas do Mundo, só o Japão (terceiro) e a Índia (sétima) não constam do Top-7 dos países com mais medalhados olímpicas do Mundo. Na 13.ª posição (142+134+163=439, em 24 edições), os nipónicos são, ainda assim, uma potência, ao passo que os indianos, no 54.º lugar (9+7+12=28, em 22), nem por isso... Estão, por exemplo, a baixo do Quénia que é 34.º (31+38+31=100, em 14) e da Etiópia que é 40.ª (22+10+21=53, em 13). Mas o caso desses dois países africanos configura a excepção que confirma a regra, uma vez que todas as suas medalhas foram conquistadas em provas de fundo e meio-fundo do atletismo, devido à especial característica genética dos seus atletas.
Se nos debruçarmos sobre os 10 países que conquistaram pelo menos uma medalha de bronze nos JO de verão, o melhor classificado em matéria de pujança económica é o Iraque (36.º, entre 188). Seguem-se-lhe Kuwait (52.º), Macedónia (125.º), Ilhas Maurícias (132.º), Togo (148.º), Eritreia (154.º), Guianas (160.º), Bermuda (), Barbados (162.º) e Djibuti (166.º). Das 10 piores economias do Mundo (Samoa, Domínica, Vanuatu, São Tomé e Príncipe, Tonga, Estados Federados da Micronésia, Palau, Kiribati, Ilhas Marshall e Tuvalu), só Tonga tem uma medalha olímpica (prata).
Portanto, é evidente a relação entre a pujança económica e o desempenho desportivo. Transportando esses termos para a África, temos que Angola é a terceira maior economia do continente, só superada pela líder Nigéria e África do Sul. Completam o Top-10 Egipto, Argélia, Marrocos, Sudão, Etiópia, Quénia e Tanzânia. Estranhamente ou nem tanto assim, nesse grupo, só Angola jamais logrou subir ao pódio olímpico.
Nesse capítulo, curiosamente, Angola é, ao lado de Marrocos, Sudão e Tanzânia, dos poucos do Top-10 económico que não estão no Top-10 de medalhas conquistadas em "Pan-africanos". Nisso, o que mais chama a atenção são assustadoras diferenças em relação, por exemplo, à África do Sul (3.ª classificada) e à Nigéria (2.ª classificada).
Enquanto o país mais populoso do continente soma 836 medalhas, a "quase-vizinha", que apenas começou a participar nos Jogos na 6.ª edição, em Harare"95, totaliza 509, ao passo que Angola só tem 33, na 16.ª posição entre 44 países, e o líder Egipto já leva 1.362!
Mais: entre 2003 e 2008 Angola registou uma taxa média de crescimento económico de 14,8% ao ano, das maiores do Mundo e das raríssimas com dois dígitos. Mas esses números assombrosos não se reflectiram no desempenho do desporto angolano, que nesse período nada fez de extraordinário, com excepção de José Sayovo no atletismo adaptado.
Aqui chegados, é mister questionar por que razão o desempenho económico de Angola não espelha o seu desempenho desportivo? As explicações são várias. Algumas se sobrelevam, a começar pelo facto de as autoridades governamentais não darem a merecida importância ao desporto, encarado ainda como apenas um entretenimento.
(Pode ler a crónica de Silva Candembo "Bancada Central" na edição do Novo Jornal 469 ou em digital, que pode pagar por Multicaixa)