Antes, porém, convém olhar para duas notas, uma positiva e outra negativa, já registadas. A nota agradável dessa campanha foi perceber que os cidadãos se podem mobilizar por causas que sejam suas, sem que necessariamente exista qualquer partido político a orientá-los.

O Facebook tem-se revelado assim uma importante ferramenta de mobilização e de debate sobre a oportunidade da realização das autarquias locais. Há, pelo menos entre as pessoas que opinam, um grande consenso sobre a necessidade de autarquias, e isso deveria merecer dos políticos uma atenção particular.

A nota menos agradável é o facto de muitos angolanos teimarem em trocar o debate de ideias por insultos. Muitas pessoas não estão preocupadas em discutir o cerne dos assuntos, mas antes em mostrar aos outros que têm mais conhecimentos, que são mais sabedores dos detalhes e que, por isso, os outros não estão qualificados para opinar. Nesta matéria, estamos infelizmente ainda atrasados, fechados até num certo provincianismo, em que se confunde instrução com inteligência e sabedoria com conhecimento.

É realmente assustadora a maneira como os debates resvalam para considerações de ordem pessoal sobre o que cada fez ou deixou de fazer, mais do que se apresentarem ideias sobre os assuntos.

Uma outra nota negativa é a participação dos funcionários públicos. Alguma coisa de errado está acontecer com os nossos funcionários públicos que se sentem quase sempre na obrigação de vir a público defender as suas instituições mesmo quando não têm de o fazer. Num assunto político como as autarquias, e particularmente no foco de abordagem que está a ser dada na campanha "Autarquias já", o debate deveria ser político, não havendo necessidade de ministério nenhum tomar as dores do partido no poder ou da assembleia, a quem em última instância cabe aprovar toda a legislação para o processo.

Em determinados casos, os funcionários levam o seu esforço a um ponto tal que desatam a diminuir quem não esteja de acordo.

Tirando esses elementos menos bons, a campanha "Autarquias já", que começou como uma mera posição de algumas pessoas, pode evoluir para um movimento cívico, enquanto movimento organizado para dialogar sobre as razões verdadeiras que impedem as autoridades de avançar para as eleições autárquicas.

A realidade demonstra que de um lado temos os partidos políticos (divididos entre a oposição e o partido da situação) e do outro a sociedade.

(Pode ler a coluna de opinião "Democracia" integralmente na edição nº 469 do Novo Jornal, nas bancas, ou em versão digital, que pode pagar via Multicaixa)