Com o título "Magnetic Memory/Historical Resonance", o projeto de António Ole tem comissariado da ministra da Cultura de Angola, Carolina Cerqueira, e como curadores, além do artista, de Maria de Oliveira e Silva, e Paulo Kussy Correia Fernandes.
Com exposições realizadas no país e no estrangeiro, António Ole, 66 anos, tem dividido a sua atividade entre as artes plásticas - pintura, escultura, fotografia, aguarela e instalação - e o cinema.
No ano passado, a Fundação Calouste Gulbenkian dedicou-lhe uma retrospectiva com obras em diversos suportes, representativas de várias décadas, que revelou também a produção menos conhecida do artista, como o caso da filmografia, iniciada após a independência de Angola (1975), e que se prolongou nas décadas de 1980 e 1990.
Com exposições em várias instituições internacionais, António Ole participou já em 2013 na 55.ª Bienal de Veneza, onde voltou a estar presente em 2015, no Pavilhão de Angola, lado a lado com outros jovens artistas angolanos.
Na exposição, na Gulbenkian, intitulada "Luanda, Los Angeles, Lisboa", o artista plástico angolano disse à agência Lusa que, ao longo de várias décadas mergulhou no passado para "esmiuçar temas dolorosos" como a escravatura e outras formas de opressão, de "que outros evitavam falar".
"Fazer este mergulho nos arquivos da História dolorosa era para mim fundamental. Ao falar destes assuntos, queria livrar-me da má consciência entre as culturas e partir para outro caminho", justificou.
Nascido José António de Oliveira, em 1951, em Luanda, onde vive e trabalha actualmente, adotou o nome artístico "António Ole" em 1967, aos 16 anos, altura em que realizou a sua primeira exposição de pintura.
Estudou cultura Afro-americana e cinema na UCLA, Universidade da Califórnia, em 1981-1985, obtendo igualmente um diploma pelo Center For Advanced Film Studies.
Em Lisboa, a exposição que lhe foi dedicada no ano passado focava essa vida tripartida por Angola, Estados Unidos e Portugal.
Figura tutelar de uma geração de artistas contemporâneos do seu país, Ole descende de duas culturas, africana e europeia, herança que assumiu quando se estabeleceu em Los Angeles para estudar e trabalhar na área do cinema.
Realizou a sua primeira exposição internacional no Museum of African American Art de Los Angeles, iniciando uma reflexão sobre a escravatura e o colonialismo.
As temáticas que percorrem a sua obra - o mar, a ilha, a cidade, a arquitetura, as paredes - surgem de uma consciência social, tendo o artista abordado temas incómodos ou mesmo tabu, como a escravatura, com o objetivo de não serem esquecidos, e para que o futuro fosse perspectivado de uma nova maneira.
O interesse pela arquitectura dos bairros de lata nos limites de Luanda, os musseques, esteve na base de um trabalho fotográfico realizado antes da independência de Angola que o levou a captar imagens de pessoas anónimas e das suas casas feitas da justaposição de materiais diversos, como restos de madeira ou chapas de lata.
Mais tarde, Ole incorporou essa dinâmica no seu trabalho, fazendo as suas próprias 'assemblages' a partir de materiais recolhidos nas ruas.
Recebeu diversos prémios em Angola, Portugal e Cuba, e a sua obra encontra-se presente em muitas colecções públicas em Portugal, Angola, África do Sul, Estados Unidos da América, Alemanha e Cuba.
A 57.ª Exposição Internacional de Arte Contemporânea da Bienal de Veneza vai decorrer com a presença de 57 países, de 13 de maio a 26 de Novembro de 2017. Para a representação oficial portuguesa foi escolhido o artista José Pedro Croft.