Sem operações bancárias em dólares desde o ano passado, período marcado pela retirada do mercado de todos os bancos correspondentes internacionais que injectavam a moeda americana no país, o Banco Nacional de Angola (BNA) tornou-se 100% dependente do euro, a única divisa que tem sido comercializada nos leilões semanais do banco central.
A necessidade da moeda do "Velho Continente", por exemplo para garantir a importação de alimentos, lançou o governador Valter Filipe numa missão além-fronteiras em busca do estatuto de supervisão bancária do Banco Central Europeu, percurso que nos últimos dias passou por França.
"Precisamos informar as autoridades europeias sobre o trabalho que está a ser feito no sistema financeiro angolano", sublinhou o responsável, em declarações à Angop, lembrando que o risco de o país perder o acesso a euros depois de já ter perdido as operações em dólares não deve ser desprezado.
"Pode também dar-se o caso de as autoridades europeias colocarem dúvidas em relação às transacções em euros em Angola", reconheceu Valter Filipe, que vê na credibilização da banca nacional o caminho para garantir a confiança externa.
Para isso, o governador do BNA frisa que "precisamos de reforçar a supervisão efectiva do banco central de Angola, e que os bancos comerciais tenham uma gestão sã e prudente, que dê garantias às autoridades europeias de que o euro esteja a ser transaccionado em Angola para fins legais".
Franceses querem ajudar bancos angolanos a terem qualidade e nível europeu
A missão para restaurar a imagem da banca nacional sentou Valter Filipe com os responsáveis do banco central de França e do Grupo de Acção Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e Combate ao Financiamento do Terrorismo (GAFI).
"Tivemos também uma excelente reunião com a Federação dos Bancos Comerciais de França, onde estiveram presentes também vários bancos angolanos, concretamente a Associação dos Bancos Comerciais de Angola", relatou o responsável do BNA, destacando os bons resultados desses encontros.
"Os bancos franceses reafirmaram a vontade de continuar a trabalhar com Angola, a vontade de darem assistência, de contribuírem para a capacitação dos recursos humanos, para a criação de todas as condições necessárias para que os bancos comerciais angolanos tenham o nível, a qualidade e o padrão que têm os bancos comerciais franceses", assinalou Valter Filipe.
O governador do banco central defendeu ainda que só com essa capitação da banca nacional é possível proteger os interesses dos investidores e dos clientes, nomeadamente das famílias angolanas.
Recorde-se que, em 2015, a má imagem externa da banca angolana colocou o país na lista "cinzenta" do GAFI - classificação que se traduziu na crescente dificuldade de acesso a dólares.
A missão de resgate da credibilidade internacional da banca angolana levou à implementação, no ano passado, do projecto de adequação do sistema financeiro nacional às normas prudenciais e boas práticas internacionais, iniciativa entretanto reforçada num périplo europeu de Valter Filipe, iniciado em Inglaterra.
"Estivemos em Londres e tivemos uma reunião com a autoridade de supervisão bancária europeia, que é a instituição que aprova a equivalência de supervisão bancária europeia. Em outros termos, é a instituição que atribui a um banco central a equivalência de supervisão como tem a Europa", esclareceu o governador do BNA, no início do ano.
Os desafios antecipam uma nova digressão europeia de Valter Filipe, estando já prevista um encontro com responsáveis do banco alemão Deustch Bank, um dos bancos correspondentes que forneciam dólares a Angola e deixaram de o fazer.