Ainda na posição de accionista maioritária do BPC e sob a presidência de Manuel Vicente, a petrolífera estatal angolana terá pressionado a comissão executiva da instituição financeira para contratar o ex-procurador Orlando Figueira, que deixou a Justiça em Setembro de 2012, e, dois meses depois, assumiu o cargo de consultor externo no banco.

Esta é a convicção do Ministério Público português que, no despacho de acusação, citado pelo diário Público, refere que Manuel Vicente terá solicitado ao administrador do BCP José Iglésias Soares, "pessoa da sua confiança" e com quem trabalhara, para interceder nesse processo.

A tese judicial é contudo contestada pelo BPC, avança o jornal português, referindo-se a declarações de "quadros da alta direcção da instituição" financeira. De acordo com estas fontes, que defendem a independência da comissão executiva, "a Sonangol sempre foi impecável na sua actuação".

O jornal luso menciona ainda que a contratação do ex-magistrado apenas surgiu devido à necessidade de substituir um quadro que tinha falecido.

O processo ficou concluído em Novembro de 2012, e, durante três anos e quatro meses, traduziu-se num rendimento acumulado de 140 mil euros para Orlando Figueira, que desempenhava funções de consultor externo para o departamento de compliance, estrutura a quem compete zelar por boas práticas e prevenir o terrorismo e branqueamento de capitais.

Foram precisamente estes os crimes que fizeram soar os alertas da supervisão financeira portuguesa contra Manuel Vicente: o vice-presidente da República movimentou 8 milhões de euros para compra de apartamentos de luxo nos arredores da capital portuguesa.

A transacção tornou-se alvo de uma investigação da Polícia Judiciária, denominada Operação Fizz, que, na semana passada culminou na acusação de Manuel Vicente por corrupção activa.

O ex-número um da Sonangol é suspeito de ter corrompido o ex-magistrado com 760 mil euros para obter decisões favoráveis em dois inquéritos.