O sinal que esta informação dá aos mercados é que um dos objectivos principais dos acordos assinados pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), a 30 de Novembro de 2016, e depois, já em Dezembro do mesmo ano, com outros países não-membros, como a Rússia, que era diluir o excesso de produção global, está a ser conseguido.

Ao fim de quase dois meses pós-acordo OPEP/Rússia, que estabeleceram um corte de 1,8 milhões de barris por dia (bpd), cerca de 300 mil bpd a mais que o excesso de produção mundial existente na altura, que era de 1, 5 milhões bpd, o petróleo armazenado nos Estados Unidos da América, o maior consumidor mundial, caiu cerca de 850 mil barris, mesmo que a existente ainda seja monstruosa, superior a 512 milhões de barris.

E os mercados perceberam que, pelo menos, existe a possibilidade de os excessos de produção poderem estar, efectivamente, a ser corrigidos, reagindo em conformidade, com uma subida de mais de 1 por cento, hoje, para 56,7 USD, em Londres, onde o Brent serve de referência para os carregamentos angolanos.

Este sinal pode ter ainda outra interpretação... a de que a correcção conseguida pelos cortes da OPEP+Rússia, para os quais Angola contribuiu com 78 mil bpd, dos pouco mais, em média, de 1, 6 milhões bpd, é sustentável.

A certeza dessa sustentabilidade pode estar à distância de algumas horas, porque se aguarda pelos dados sobre os inventários da Administração de Informação de Energia dos EUA, que regista as reservas armazenadas também de carvão, combustíveis, energias renováveis, para além do petróleos e do gás natural e que, se forem igualmente revistas em baixo, podem dar mais um impulso ao preço do barril de crude.

Mas há uma parcela nesta equação que não pode ser ignorada: a produção de petróleo através do processo de "fracking", que consiste no despedaçar de rocha de xisto a grandes profundidades por jacto de água a alta pressão.

Este sector, com grande dimensão nos EUA, foi profundamente afectado pelos preços baixos do barril a partir de 2014, tendo a maior parte das companhias ido à falência ou optado por fechar portas até que novos ventos soprassem, porque os custos de produção deste processo ultrapassam os 70 dólares por barril, incomportável ainda com com os actuais preços.

O problema para a OPEP, e, por arrasto, para Angola, é que a tecnologia de extracção a partir do xisto tem vindo a desenvolver-se a um ritmo acelerado e fez baixar o "break-even point" do barril oriundo do "fracking" de mais de 100 dólares para os actuais 70, com forte tendência para baixar, o que permite adivinhar que a partir dos 60 USD/barril, esta indústria volte em força, ameaçando seriamente os cortes feitos pela OPEP+Rússia, fazendo com que os excessos de produção voltem aos mercados, pressionando em baixa o preço actual, que se aproxima dos 57/58 dólares por barril.

O mundo produz actualmente entre 96 e 97milhões bpd, sendo a OPEP responsável por cerca de 40 por cento, mas com a adesão da Rússia aos acordos, entre outros países, ficaram mais de 50 por cento do lado da balança que pressiona os preços para cima através dos cortes.

Os especialistas admitem que o que pode jogar um papel decisivo neste xadrez mundial é o facto de os baixos preços terem tido outra consequência, que, mesmo que subam muito vai levar anos a recuperar: as multinacionais do petróleo deixaram de investir na pesquisa de novas reservas, que estão agora e por isso ao nível dos anos de 1940, e, por outro lado, também diminuiu a aposta dos governos nas energias alternativas, bem como a investigação inerente.

Para já, no que diz respeito a Angola, interessa ter em conta que o barril já subiu dos 43/44 dólares para 56/57 em pouco mais de dois meses, o que faz uma enorme diferença nas contas públicas.