Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente e pela mesma razão - Eça de Queirós

Porque as fraldas, com uso excessivo, se desgastam e chegam a um ponto em que exalam um cheiro insuportável. Chegam a um estado em que, a bem ou a mal, têm que ser substituídas, porque criam, nas crianças, um surto insustentável de sarnas.

Com os políticos, noutras paragens ou em Angola, acontece a mesma coisa. Há um tempo para tudo. Como as fraldas modernas, os políticos dos nossos tempos, mesmo grudando-se muito tempo ao poder, não deixam de ser igualmente descartáveis.

Derrotados pela embriaguez causada por longos anos de poder, há um tempo em que os políticos se revelam cansados e fartos dos cidadãos. É o tempo em que só fazem asneiras. E não há quem lhes trave os disparates que diariamente cometem contra o interesse público. Cegos, nunca esperam por resposta alguma. Mas não ficam sem troco.

Os cidadãos podem não o exprimir em voz alta, mas também não escondem o cansaço de ter de os aturar. Por aqui, os cidadãos já demonstraram estar cansados de ver na tela dos vários quadrantes da nossa pálida paisagem partidária os mesmos figurantes de sempre.

Estão fartos de ouvir as mesmas promessas de sempre, inflamadas ora em discursos sonolentos ora em tiradas populistas. O MPLA parece agora tentado a mudar de rumo.

E, por isso, antecipou-se à oposição mas, ao avançar para uma mudança agora e tratando-se de um Partido que se apresenta como sendo moderno e democrático, o MPLA não deixa de o fazer com os ponteiros do relógio a registaram um prolongado atraso.

Sem desesperança mas também sem exacerbado optimismo, digamos que mais vale tarde do que nunca... Foi, por isso, com cautelosa expectativa que ouvi o discurso proferido no Lubango por João Lourenço no acto da sua apresentação pública como candidato a sucessor de Eduardo dos Santos na Presidência da República.

Não tendo mais idade para me exultar com discursos políticos eleitoralistas, não deixo, porém, de reconhecer que João Lourenço esteve bem nalguns pontos. Noutros faltou debruçar-se com mais acutilância sobre políticas que deveriam ter sido abordadas com maior profundidade para sustentar a sua agenda como futuro Chefe de Estado.

É claro que não deixo de observar que se tratou do discurso que assinala o pontapé de saída de uma longa maratona, logo seria ingénuo da minha parte esperar que João Lourenço esgotasse todos temas que, ao longo da campanha eleitoral, vai ter que desfiar.

Talvez, por esta razão, tenha sido demasiado vago na abordagem feita à volta da problemática das parcerias público-privadas. Problemática porque é um tema que deve ser equacionado com muita cautela mas, sobre os seus obscuros contornos, debruçar-me-ei num próximo artigo.

Por ora, é saudável que João Lourenço tenha defendido a inserção dalguns dos melhores quadros a trabalhar no mercado de trabalho ao nível dos municípios. Subscrevo inteiramente esse propósito porque entendo que os municípios devem passar a funcionar como átomo da governação central.

(Leia o artigo de opinião de Gustavo Costa na íntegra na edição n.º471 do Novo Jornal, nas bancas, e também disponível em versão digital, que pode pagar por MultiCaixa)