A trilogia é perfeita. Digamos mesmo que, desgraçadamente, perfeita. E, em que assenta, afinal, essa trilogia, separada apenas por arames?

Assenta numa semana que, não tendo chegado a ser trágica, poderá, porém, ser representativa de um naufrágio provocado pela tormenta de atitudes nada edificantes para a nossa história.

Vivemos sete dias em que, na qualidade de cidadãos em pleno uso dos seus direitos constitucionais, dificilmente os esqueceremos.

A semana que passou prenuncia uma semana em que, até Agosto, o ambiente tenderá a ser de efervescência política preocupante.

Uma semana democraticamente "atípica", como diria o outro. Uma semana em que os angolanos de todos os quadrantes, partidários e sociais, confirmaram o que já se sabia: a sua democracia, com mais invólucro do que conteúdo, não é nem peixe, nem carne...

O folclore nativo que a ornamenta só se encaixa nos caquécticos parâmetros das democracias populares. Os tempos, porém, são outros e já vão mais de 20 anos que aqueles modelos de autocratismo "democrático" foram enterrados.

Agora ou adaptamo-nos aos novos ventos da história ou o país arrisca-se a candidatar-se a ser líder da periferia de um mundo avesso às liberdades democráticas.

Por enquanto, mesmo que engalanando as montras com slogans pretensamente libertários, continuaremos, a todos os níveis do nosso espectro partidário, ainda muito longe de fazer parte do mundo democrático.

Aparentemente sem quaisquer ligações entre si, aqueles três temas têm em comum um denominador que os mantém abraçados como irmãos siameses: o eleitoralismo.

Mas vamos por parte.

Ninguém tem dúvidas de que tem sido vergonhosamente desproporcional a cobertura que os órgãos de comunicação social pública e alguns órgãos privados têm estado a fazer em torno da (pré) campanha eleitoral.

O MPLA por ser governo dispõe de vantagens, que lhe podem permitir sempre deixar os adversários com a língua de fora.

Logo, essas vantagens deveriam ser capitalizadas de modo a que não se desse margem a que a oposição não se sentisse tentada a destapar o espectro de viciação de um jogo cujas regras devem ser mediadas por árbitros e fiscais de linha sérios e imparciais.

E o MPLA, que possui nas suas fileiras gente séria, só sairia a ganhar se, desse ponto de vista, tratasse de afastar toda e quaisquer suspeições que possam vir a ser susceptíveis de inquinar o processo.

O MPLA, apesar de suportar uma equipa governativa desgastada, continua a dispor de uma confortável capacidade de mobilização popular, logo não precisa de ser cúmplice desta escandalosa desigualdade de tratamento mediático de que se queixa a oposição.

Ao continuar a agir neste sentido, o MPLA corre o risco até de lançar uma nuvem de incertezas sobre os seus próprios militantes, deixando escapar ter ensombrados receios em relação ao desfecho do jogo nalgumas praças eleitorais.

Mas, em contrapartida, a UNITA também não parece, nalguns aspectos, dar mostras de ser flor com quem se possa apaixonar.

Na verdade, o que fizeram alguns dos seus militantes em resposta à discriminação que a UNITA diz estar a ser vítima por parte dalguns órgãos de comunicação social é absolutamente inaceitável.

O que protagonizaram põe a nu uma arruaça anti- -civilizacional intolerável. A agressão aos jornalistas da TPA que se propunham cobrir o comício comemorativo dos 51 anos da fundação da UNITA só revela que muitos militantes deste partido continuam a ser órfãos de uma das suas formas de sobrevivência - a violência. (...)

(Pode ler a crónica integral de Gustavo Costa na edição nº 474, nas bancas, ou em digital, cuja assinatura pode ser paga no Multicaixa)