Sendo ele uma pessoa bem informada, muito acima da média geral, imagino o que deve acontecer com a maioria daqueles que vão acompanhando a política nacional através dos órgãos de informação e das redes sociais.

Os problemas de comunicação do MPLA vêm de longe. O que aconteceu com a Estratégia 2025 é paradigmático. O documento foi elaborado por uma empresa de consultoria portuguesa paga pelo Governo, e serviu de base para a definição da Agenda Nacional de Consenso, proposta pelo MPLA à sociedade angolana. Nunca cheguei a perceber porque a Estratégia foi mantida durante anos como documento secreto ou confidencial.

Para evitar que se percebesse a tal ligação entre um documento partidário e outro do Governo a expensas do erário público? Ou porque na realidade as suas linhas programáticas não se adequavam à estratégia de reconstrução que começava a ser implementada?

A análise desta questão daria uma boa tese de doutoramento ou dissertação de mestrado ou simplesmente um interessante projecto de investigação se... mas infelizmente isso é outra história.

O certo é que só muito recentemente, quando estavam a ser elaborados os Planos Nacional e Provinciais de Desenvolvimento para o período 2013-2017, o Presidente da República se referiu à Estratégia 2025 como o rumo do País, o que ainda mais recentemente foi confirmado com a criação de uma comissão interministerial para proceder ao seu ajustamento e expansão até 2050.

Um parêntesis, entretanto, impõe-se, pois o documento era tão confidencial que um líder da oposição teve acesso a ele através de uma personalidade estrangeira.

Aqui chegamos ao ponto. Dificilmente poder-se-á dizer que o modelo económico falido - algo que não se me oferece qualquer dúvida - tenha uma verdadeira correspondência com a Estratégia 2025. Tenho vindo a tentar demonstrar isso em vários artigos e no quadro da minha colaboração com o Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola no que se refere ao sector agrícola.

Não se encontra na dita Estratégia qualquer respaldo para os projectos megalómanos que foram implementados com investimento público que deve ter rondado os dois mil milhões de dólares com níveis de eficácia e eficiência tão baixos que motivaram a falência e reestruturação de quase todos, sendo que muitos deles consumiram dezenas de milhões de dólares com eficácia zero, repito, zero, ou muito próximo disso.

Denunciei casos destes na devida comissão da Assembleia Nacional. Ironicamente, o tal meu amigo diz que a tentativa de construção de um "Dubai Agrícola" falhou clamorosamente. Claro!

(Leia este artigo de opinião na íntegra na edição n.º474, nas bancas, e também disponível por assinatura digital, que pode pagar no MultiCaixa)

*membro do Observatório Político e Social de Angola (OPSA)