À chegada a Luanda, na quarta-feira, Velloso não especificou os valores que o FMI considera aceitáveis para a inflação no país, mas apontou de forma clara que os mais de dois por cento ao mês actualmente registados são uma preocupação séria, a ponto de merecer um forte sublinhado logo no início da visita.

Esta nova deslocação a Angola, realizada ao abrigo do Artigo IV do regulamento do fundo, que prevê consultas anuais aos países-membros, nas quais são feitas avaliações do desempenho macro-econômico, tem como objectivo preparar a nova ronda de consultas que os técnicos da missão do FMI vão fazer com o Governo angolano no final deste ano, já com um novo Presidente da República eleito e, provavelmente, com um novo elenco governativo em funções.

Os primeiros passos desta delegação liderada por Ricardo Velloso, que acompanha Angola há vários anos e conhece, como poucos, a realidade económica do país por ter sido um observador próximo do período em que a crise, despoletada pela queda vertiginosa do preço do barril de petróleo, se instalou, foram com elementos da Comissão Económica do Conselho de Ministros, com quem preparou a agenda de trabalho para os próximos seis dias.

Velloso, depois do primeiro encontro com o ministro das Finanças, na tarde de quarta-feira, reafirmou a preocupação do FMI com a "resiliência" da inflação em Angola, acima dos 40 por cento em 2016, mas sublinhou, como costuma fazer, as medidas que o Governo tem posto em prática para diluir o aumento dos preços no país, nomeadamente as que foram conhecidas "nos últimos meses" pelo BNA.

A questão da inflação está no foco do FMI porque a instituição financeira internacional considera que esta é um poderoso obstáculo ao crescimento económico, essencial para que o país possa ver a saída da crise que atravessa e torna mais difícil alguns passos importantes para isso, como a questão da diversificação da actividade produtiva.

Ricardo Velloso referiu-se ainda, nestas declarações aos jornalistas, à retirada de moeda em circulação, kwanzas, como uma medida positiva por influir positivamente nas elevadas taxas de câmbio executadas no mercado paralelo.

No entanto, esta deverá ser uma questão em cima da mesa entre os técnicos do FMI e do Governo, porque, como foi divulgado recentemente, os auditores da Ernst & Young ao relatório e contas de 2015 do BNA, aprovaram os documentos sob reserva porque existem dúvidas quanto à quantidade efectiva de moeda em circulação.

Segundo o jornal Expansão, em causa está a continuidade em circulação de notas e moedas emitidas em 1999 e que já deviam ter sido recolhidas antes de Julho de 2015.

No entanto, Velloso não tem dúvidas: "É uma medida muito importante, que ajuda no controlo da inflação e ajuda a reduzir o diferencial entre a taxa de câmbio do mercado de rua e a taxa oficial".

A diversificação da economia, melhorar o ambiente de negócios, item em que o país surge sempre mal posicionado nos rankings internacionais, o controlo da inflação, mais abertura à iniciativa privada e a redução do défice público são questões levantadas sempre que o FMI realizada estas visitas a Angola.