Numa ronda efectuada hoje por vários postos de abastecimento de combustível do centro e arredores de Luanda, a Lusa constatou a falta de gasóleo na maior parte destes, e verdadeiras enchentes nos que ainda o comercializam.

"Desde ontem [quinta-feira] que estamos nesta condição. Não temos gasóleo, a procura é grande", contou um dos funcionários das bombas da Sonangol no São Paulo.

Situação semelhante vive-se no posto de abastecimento da zona do Miramar, onde outro funcionário explica que apenas esta manhã o posto foi abastecido, processo que tem sido irregular e insuficiente face à procura de viaturas e populares, carregados de bidões para alimentar os geradores domésticos.

"Segunda-feira tinha, mas não demorou, estamos com abastecimento limitado desde Fevereiro e não sabemos o que se passa. Apenas hoje de manhã o posto recebeu gasóleo", contou.

A Sonangol anunciou na quarta-feira, 22, que aumentou em 25% o fornecimento de combustível aos postos de distribuição, para responder à elevada procura, nos últimos dias, sobretudo de gasóleo.

Em comunicado, a concessionária nacional informou que as recentes restrições no fornecimento de electricidade a Luanda e aos grandes centros populacionais do país, devido ao início do enchimento da albufeira da barragem hidroelétrica de Laúca, provocaram um aumento significativo do consumo de combustíveis para uso doméstico, nomeadamente geradores.

A operação de reforço está em curso e nos próximos dois dias, segundo a Sonangol, vão estar disponíveis mais 75.500 toneladas métricas de gasóleo, em todo o país.

Num cenário em que várias zonas da cidade estão há dias sem electricidade e outras apenas com fornecimento da rede pública por poucas horas diárias, a procura pelo gasóleo, para os geradores caseiros, continua crescente em Luanda, conforme explicou à Lusa Josué Janota, um dos responsáveis das bombas da Sonangalp na avenida Hoji-ya-Henda, na capital.

Josué Janota conta mesmo que na quinta-feira o posto foi abastecido com trinta mil litros mas que acabaram em menos de cinco horas.

"Por esta altura já aguardamos por novo abastecimento dos depósitos", apontou.

Fernando Leitão é gerente de outro dos postos de combustível da Sonangalp no centro da cidade e que desde quinta-feira está sem gasóleo. Sempre que há, afirma que triplica a venda de gasóleo em comparação com os meses anteriores.

"A procura aumentou, aliás neste momento estou mesmo com falta e estou a vender mais que os meses anteriores. Geralmente, em gasóleo, eu fazia uma média de 6.000 a 7.000 litros e ainda ontem vendi 23.000 litros", sublinhou.

O gerente do posto de combustível considera preocupante e incompreensível a actual carência que se regista no fornecimento de gasóleo.

"Isto é muito complicado e nem sabemos como é que havemos de explicar. Porque de facto há falta, recebe-se um dia e ficamos dois ou mais dias sem o abastecimento do gasóleo. Não havendo também energia eléctrica na cidade então mais consumo exige, os fornecedores vão falhando nas entregas e é muito complicado", rematou.

A Sonangol explica o cenário com o atraso na comunicação da Empresa Pública de Produção de Eletricidade (PRODEL) sobre as restrições no fornecimento de electricidade, o qual provocou um afluxo "anormal" dos consumidores aos postos de abastecimento.

As províncias de Cabinda, Benguela, Kwanza-Sul, Lunda Norte e Lunda Sul têm o problema agravado, de acordo com a Sonangol, devido às chuvas intensas que têm caído sobre aquelas regiões, impedindo a "rápida e normal circulação dos camiões e abastecedores".

"O mau tempo tem também impedido a atracagem de navios em Cabinda e Benguela, adiando assim a descarga de combustíveis", explicou anteriormente a petrolífera.