Com 230 milhões de população jovem em 2015, África vai quase duplicar este número em 2050, ano em que a sua população deverá atingir os 452 milhões, metade com menos de 25 anos.
A jovialidade demográfica do continente não se reflecte contudo na realidade quotidiana, que parece ser incapaz de integrar os mais novos, assinala a Fundação Mo Ibrahim, alertando para os riscos de um desperdício geracional.
"O desencantamento com a democracia e a escassez de oportunidades económicas são um estímulo "tóxico" ao apelo pela migração e pelo extremismo violento", aponta o relatório "África no ponto crítico".
O documento observa igualmente que "a maioria dos cidadãos africanos confia mais nos líderes religiosos, militares e tradicionais do que nos seus representantes eleitos", dado acentuado pela discrepância de idades entre os políticos e a população que servem.
De acordo com o estudo, em 2016 a média de idade dos líderes africanos era de 66 anos, enquanto a média etária da população se situa nos 20 anos, sendo que mais de metade não tem idade para votar.
Talvez por falta de "sangue novo", as lideranças regionais têm negligenciado a criação de empregos para os mais novos, apesar de os níveis de crescimento económico recentes terem criado margem de manobra para isso.
"Nos últimos dez anos, enquanto o PIB africano cresceu em média acima dos 4,5%, os níveis de desemprego jovem permaneceram elevados", lê-se no relatório, que estima a existência de mais de 30 milhões de jovens desempregados em África (dados de 2015).
Um dos resultados mais visíveis desta realidade é a fuga de jovens qualificados para outras latitudes, efeito que os especialistas vêem como prenúncio de retrocesso.
"O futuro depende cada vez mais da capacidade de África canalizar a energia para satisfazer as expectativas dos jovens", avisa a Fundação Mo Ibrahim, especializada em questões de governação do continente africano.
Para além do êxodo de cérebros, o relatório aponta o terrorismo como outro reverso da falta de oportunidades para os jovens africanos, lembrando que, em 2015, quatro estados africanos estavam incluídos no grupo de dez países com níveis mais elevados de terrorismo: Nigéria, Somália, Egipto e Líbia.
"Os empregos, o estatuto e sentimento de "pertença" oferecidos aos jovens para cortarem os laços com os paradigmas político e económico legais podem ser mais atraentes do que a própria ideologia", alerta a Fundação.