Em entrevista à agência Lusa, a propósito do concerto "Encontro de gerações" - que acontece este sábado, 1 de Abril, em Lisboa, e que o junta no mesmo palco a Paulo Flores -, Bonga revela a sua desconfiança em relação à transição política no país.
"O senhor José Eduardo dos Santos ainda não disse tudo. Ainda tem uma na manga, que vai sair quando ele precisar", disse o músico, acrescentando que o Chefe de Estado "continua a ser o patrão máximo de Angola, até prova do contrário".
"Angola vive um período decisivo, há uma transição de pessoas, depois se saberá se será uma transição de regime", prosseguiu o cantor, referindo-se à continuidade de uma intrincada rede de influências.
"O poder em Angola está bem montado", disse Bonga, considerando: "os filhos [de José Eduardo dos Santos] têm a banca, e principalmente os comparsas... Ele tem muitos comparsas, incluindo no estrangeiro, e são esses comparsas que fazem movimentar o capital que lhe dá força e poder".
Crítico em relação ao papel dos parceiros externos com "interesses em Angola", Bonga defende que "deviam impor condições", em vez de compactuar com o regime.
"Estou a falar de Portugal, da França, dos Estados Unidos, da Holanda, do Brasil e de outros países que contactam com Angola", precisou o artista.
"Gostava de dizer a todas as pessoas com o olho em Angola ou com o verbo virado para Angola, que sejam coerentes consigo próprias, e exijam a democracia que praticam nas suas terras de origem", reforçou o músico, céptico em relação à mudança que João Lourenço poderá introduzir.
"Depois das eleições em Agosto, a situação em Angola será a do "vira o disco e toca o mesmo", com muitos falsos amigos a darem força àquele poder, porque ganham dinheiro com isso", rematou.