Num encontro que manteve com o Presidente Kabila, o primeiro depois da sua nomeação, Bruno Tshibala informou os jornalistas de que recebeu "orientações do Chefe de Estado para a formação do Governo o mais rápido possível".

A principal missão do novo executivo congolês, como Tshibala apontou logo após a sua nomeação para primeiro-ministro, quebrando um perigoso impasse que se tinha criado, é erguer um calendário eleitoral e as condições mínimas para a realização de eleições gerais ainda esta ano, como exige o acordo assinado entre a oposição e o Presidente Joseph Kabila nas últimas horas do ano passado, a 31 de Dezembro, e que evitou uma escalada imprevisível da violência no país.

A par do processo eleitoral, o primeiro-ministro, que foi indicado para o cargo pela oposição a Kabila, conforme o acordo já referido impunha, tem como prioridade a definição de um projecto que garanta a segurança no país, trucidado por confrontos em quase toda a sua extensão, e a melhoria do periclitante quadro macroeconómico em que vive a RDC.

Recorde-se que Tshibala é um dirigente de longa data da União para a Democracia e Progresso Social (UDPS), o maior partido da oposição, fundado pelo histórico Etienne Tshisekedi, recentemente falecido, responsável pelas sucessivas convocações de manifestações em Kinshasa, que geraram centenas de mortos em 2016, e garantiu manter-se fiel aos princípios defendidos pelo fundador do partido, que tinha como principal objectivo desapossar Kabila do poder.

Bruno Tshibala não esconde que o seu principal objectivo é conduzir o país a eleições gerais ainda em 2017, condição primeira do acordo de transição política, o que resultará na saída de Kabila do poder, impedido que está constitucionalmente de se candidatar a um terceiro mandato presidencial.

Joseph Kabila já devia ter abandonado o poder em Dezembro de 2016 se o calendário eleitoral tivesse sido cumprido, tendo, com a crise eleitoral que resultou da não realização do registo eleitoral, conseguido prolongar o mandato de forma artificial pelo menos até Dezembro deste ano.

"Peço a todos os congoleses que apoiem o meu Governo de forma a consegui9r, sem margem para dúvidas, realizar ainda este ano as eleições gerais", declarou Tshibala imediatamente após a sua nomeação.

... e ao lado, a guerra

Entretanto, enquanto em Kinshasa se organiza o Governo do país, no Kasai, província que faz fronteira com Angola, decorrem, ininterruptamente, violentos combates entre os milicianos do chefe tribal Kamwina Nsapu, morto a tiro em Julho do ano passado, e as forças da ordem congolesas.

Estes combates já duram há mais de um ano, sendo a parte visível da sublevação autonomista desta milícia contra o Estado congolês no Kasai, mas tem-se assistido a um substancial crescendo da violência e duração.

No Domingo, segundo a rádio Okapi, estação emissora da ONU na RDC, mais de uma dezena de milicianos foram abatidos pelos militares das FARDC, na cidade de Kamonia, a escassos quilómetros da fronteira com Angola, na Lunda Norte.

E o perigo de dispersão transfronteiriça deste conflito existe, porquanto, como revelam os relatos oriundos do local, os últimos confrontos resultaram de uma incursão dos milicianos de Nsapu próximo de Kamonia, para onde se deslocaram com o objectivo de defender membros da tribo Bena Lulwa, afecta às milícias de Kamwina Nsapu, que estavam a ser perseguidos por grupos da comunidade Tshokwe congolesa, com fortes ligações étnico-familiares à etnia Tchokwe angolana, sendo que é em Angola que se encontra a maioria desta etnia, também presente na Zâmbia.

Estes ataques em Kamonia foram confirmados pelo Governador do Kasai Ocidental, Marc Manyanga Ndambo, tendo este garantido que está a ser feito tudo para repelir estes ataques e incursões violentas das milícias de Nsapu, que, até agora, têm demonstrado grande capacidade de resistência às tentativas da sua aniquilação por parte das Forças Armadas da RDC, com apoio da missão da ONU no país, a MONUSCO.

Recorde-se ainda que a RDC vive há décadas sob a violência imposta por guerrilhas de origem externa, seja do Uganda, a ADF, ou do Ruanda, a FDLR, que recorrem ao terror para melhor poderem explorar extensas áreas da RDC ricas em minérios, como o raríssimo coltão, por exemplo.