É preciso perceber que a guerra, em parte, foi resultado do fracasso do sistema político e do modelo económico, o objectivo da reabilitação não mais deveria ser o de voltar às condições prévias, ao início da guerra, mas em alguns casos ir noutra direcção, redefinindo as relações entre a sociedade civil, sector privado e o Estado, superando as tensões existentes e modificando as políticas e instituições.

Em resumo, depois de 30 anos de guerra, pelo menos do ponto de vista económico, a reabilitação não deveria ser entendida apenas como construção e reconstrução de infra-estruturas, mas também como reforma política e do modelo económico, tendo em conta os aspectos sociais, culturais e institucionais próprios de um período de pós-guerra.

A reabilitação pós-bélica ocorreu num contexto de grande complexidade. Do ponto de vista económico, havia necessidade de se empreender medidas de emergência a curto prazo para satisfazer as necessidades básicas mais imediatas, mas isso não pode servir como desculpa para justificar o facto de que algumas medidas que visavam o desenvolvimento a longo prazo, não fossem gizadas ou pura e simplesmente não vieram a gerar os recursos e capacidades necessárias para corrigir ou eliminar muitas das causas profundas do conflito.

Com pressas, euforias e, por vezes, sem nenhum diálogo ou concertação envolvendo todos os interessados, a primazia era dada às necessidades urgentes e imediatas de reconstruir muitas infra-estruturas destruídas pela guerra e levaram ao esquecimento de um conjunto de acções, não imediatas, mas igualmente importantes.

Uma destas acções foi o aproveitamento de serviços, experiências, conhecimentos e informações acumuladas durante a fase de emergência, na qual estiverem envolvidas pessoas ligadas às várias Organizações Não-Governamentais e instituições públicas do Estado.

Custa acreditar, olhando para os vários programas e projectos falidos, que, volvidos mais de 15 anos desde que terminou o conflito armado, as instituições públicas ainda tenham dificuldades, e grandes, para implementar com êxito aceitável programas, como foi o caso dos programas de crédito agrícola de campanha, recenseamento da população, distribuição de bens e serviços aos mais vulneráveis, diagnósticos rurais participativos, apoio às vítimas da seca no sul de Angola, comercialização no meio rural, projectos de autoconstrução dirigidos, etc...

*Coordenador do Observatório Político e Social de Angola (OPSA)

(Pode ler este artigo de opinião na íntegra na edição 477 do Novo Jornal, também disponível por assinatura digital, que pode pagar no Multicaixa)