Em Luanda, houve vezes que passei a ter uma postura crítica e passei, então, a ser chamado de "vende-pátria" e até mesmo de "apátrida". Um "amigo" virtual começou, inclusive, a espalhar falsidades sobre mim que me levaram a bloqueá-lo.

As minhas makas são simples. Não entendia por que razão não havia nem água ou papel higiénico na casa de banho dos homens na sala das partidas do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro.

Os semáforos na cidade de Luanda não estavam a funcionar e quase fui atropelado; houve quem tenha lamentado o facto de não ter sido atropelado e que não deveria estar lá a resmungar.

Não entendia por que razão, em Luanda, não havia um limite nos geradores: eu estava hospedado numa área onde havia três ou quatro geradores gigantescos a emitir fumo enquanto as crianças brincavam ao lado. Por ter lamentado este facto, fui também insultado.

Houve quem tenha perguntado o que é que eu estava a fazer por Angola - segundo eles, eu só estava a fazer parte da crítica e não da solução.

Muito cedo em vida, soube do lado nefasto que vinha com as proclamações de patriotismo.

Quando era criança, na Zâmbia, havia o que era conhecido como "operations cleanup" ou "operações de limpeza".

A polícia cercava um bairro de madrugada e ia de casa em casa à procura de estrangeiros sem papéis.

Nós estávamos na margem da legalidade - deveríamos estar no campo de refugiados, mas a minha falecida irmã era casada com um angolano com ligações muito fortes à Zâmbia, onde os pais deste tinham nascido. Os nossos vizinhos sabiam que éramos estrangeiros - mas iriam fazer tudo para nos defender; nós vivíamos com eles e partilhávamos quase tudo.

Havia, porém, activistas ligados ao partido no poder, que agitavam principalmente contra os zairenses, que eram acusados de todos tipos de crimes na terra: roubos, canibalismo, prostituição, tráfico de drogas e minerais, etc. Lembro-me que naquelas operações se apanhavam também muitas bruxas, mulheres com pequenos "jactos" para voos nocturnos.

(Leia este artigo de opinião na íntegra na edição 478 do Novo Jornal, nas bancas e também disponível por assinatura digital, que pode pagar no Multicaixa)