Não posso, desta forma, deixar de tomar como inquestionável o valor das redes sociais na transmissão de informação de forma mais rápida e eficaz.

Não deixo de a reconhecer como sendo um instrumento útil na transmissão de conselhos de vida, na prevenção de cuidados de segurança pública a observar perante a nossa actual espiral de criminalidade ou no fornecimento de recomendações médicas.

Lá por isso, não me vergo, porém, a tudo quanto por lá tem sido debitado. E não está em causa a liberdade das pessoas exprimirem livremente as suas opiniões.

Nem está em causa o direito das pessoas manifestarem a sua indignação face a desmandos governativos que atentam contra os interesses das comunidades.

Por lá tem sido veiculada informação séria e oportuna sem a qual o desfile de abusos de poder teria um campo ainda mais fértil para garantir o triunfo do nepotismo e da corrupção.

Muito mal, neste aspecto, iria a nossa democracia se fosse instituída uma disposição legal que proibisse o exercício do direito à crítica por parte dos cidadãos.

Já basta ter sido retirada ao Parlamento a sua função nuclear: fiscalizar os actos do Governo...

Acontece, porém, que o exercício da liberdade de expressão e de imprensa obedece a determinados princípios e valores. Princípios e valores que têm sido violados de forma grosseira por quem, ao fazer uso indevido das redes sociais, como adverte o escritor e jornalista Miguel Sousa Tavares, fabrica muitas vezes "vítimas do abuso e da falta de respeito pela presunção da inocência".

E o que é criticável nas redes sociais em Angola, designadamente através do Facebook e o Instragam, é extensivo também ao que de horrendo se publica na maioria dos jornais de fim-de-semana.

A circulação dalgumas dessas publicações, em defesa da higiene gramatical que se impõe a quem pretende utilizar com um mínimo de rigor a língua portuguesa, deveria ser seriamente ponderada pelas autoridades.

Escrevendo-se por lá com os pés como, de resto, também é reflectido em muitos disparates estampados nas redes sociais, representam um perigo para as crianças da instrução primária...

Mais uma vez aqui não está em causa o direito dos governados criticarem, sem excepção, os governantes.

Desde o Presidente da República ao administrador comunal, passando pelos deputados, juízes e jornalistas, toda a gente deve estar preparada para receber reparos da opinião pública. Ninguém pode pensar que a vida se resume a um manto de elogios.

Posso não concordar - e não concordo em muitos aspectos - com a engenharia financeira adoptada pelo Presidente na gestão dalguns dossiers nos últimos tempos, mas se a minha discordância - como a de outros cidadãos - pode ser legítima, nada me confere o direito de resvalar para os insultos e calúnias de que, sob o anonimato, a sua figura e a sua família têm sido vítimas nalguns jornais e nas redes sociais.

A circulação nas redes sociais de uma lista de supostos devedores do ex-BESA constitui outro inqualificável atentado ao bom nome e à honra de muitas pessoas nela citadas sem quaisquer ligações com aquela instituição bancária.

O empresário Adérito Areias e o jornalista Carlos Rosado de Carvalho também não escaparam ao estilete assassino da cobardia e baixeza expelidas na Internet.

Fico-me por estes exemplos para demonstrar que o WhatsApp está agora a impor-se, no nosso país, como rei e senhor no uso e abuso de situações tão burlescas.

(Leia a opinião de Gustavo Costa na íntegra na edição 479 do Novo Jornal, nas bancas e também disponível por assinatura digital, que pode pagar no Multicaixa)